Destacada em relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), a diferença de preços entre alunos do Fies e alunos sem financiamento já foi contestada por empresas de educação. A oferta de descontos oferecidos a alunos que não possuem financiamento é uma prática no setor, mas a CGU considerou que alunos no Fies não deveriam ter mensalidades superiores às de estudantes não financiados pelo programa.

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Auditoria da CGU comparou os preços das mensalidades pagas por alunos no Fies com os preços dos mesmos cursos anunciados em sites de bolsas e descontos. São sites como QueroBolsa, Educa Mais Brasil e Mais Bolsas. Segundo a CGU, em mais de 97% dos cursos analisados, os preços das mensalidades eram menores nos sites de desconto do que aqueles praticados no Fies.

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Há uma divergência de entendimentos porque, no setor privado, não se considera que esses sites de bolsas estejam enquadrados na regra que exige que qualquer desconto dado a alunos seja também estendido aos estudantes do Fies. A lei prevê que os alunos com Fies têm direito aos mesmos descontos “regulares e de caráter coletivo” oferecidos pela instituição a outros estudantes.

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No ano passado, a Kroton foi alvo de questionamentos justamente sobre suas práticas de descontos a alunos fora do Fies. Na época, a companhia apresentou dados sobre sua base de alunos, afirmando que havia descontos aos quais alunos do Fies não são elegíveis. Entre eles, estão justamente os descontos oferecidos a alunos que chegam à companhia por meio dessas empresas parceiras que ofertam bolsas.

A CGU considerou no relatório de auditoria, no entanto, que o “espírito da redação original da lei de criação do Fies” é a “impossibilidade de alunos Fies apresentarem mensalidades superiores, respeitadas as mesmas condições, a de outros alunos não financiados pelo programa”.

Ministério da Educação

Ao detectar o que considerou discrepâncias nos preços cobrados por faculdades privadas para alunos do Fies, a CGU questionou o Ministério da Educação sobre suas iniciativas. Em resposta, o MEC destacou a existência de um grupo de trabalho, criado em 2015, para avaliar indícios de irregularidades no Fies. Segundo o MEC, tem se avaliado a “possibilidade e viabilidade” de desenvolver um instrumento de monitoramento de preços no Fies.

Apesar da resposta, a CGU concluiu que não há, até o momento, procedimento formalizado de verificação dos valores cobrados aos alunos Fies.

Quero Bolsa

O Quero Bolsa comentou, em nota, auditoria da CGU que contesta discrepâncias de preços adotados pelas instituições de ensino privada no Fies. O site, um dos consultados pela CGU ao comparar os preços de mensalidades de alunos dentro e fora do Fies, afirmou que fez sugestões de melhorias no programa de financiamento do governo.

Em nota, o Quero Bolsa afirma que seu presidente, Bernardo de Pádua, participou de audiência pública na Câmara dos Deputados quando houve a discussão sobre as novas regras aprovadas para o programa em 2018. O executivo defendeu que uma forma de evitar distorções nos preços seria fazer com que o financiamento fosse concedido como uma carta de crédito dada ao estudante em vez de vinculada a uma instituição específica. Para o executivo do Quero Bolsa, essa seria uma forma de o aluno ter mais poder de defender seus próprios interesses e buscar mensalidades no menor valor possível.

O Quero Bolsa afirmou que defende um Fies transparente e eficiente como parte da política educacional brasileira.