Achados arqueológicos nas obras de construção da garagem subterrânea do prédio do Ministério Público Estadual (MPE), no Rio, revelam fragmentos de uma história desconhecida da cidade. Os milhares de pedaços de azulejos holandeses datados do século 19 encontrados nos últimos dez meses atestam que no antigo Morro do Castelo também havia casas ricas. O morro foi demolido nos anos de 1920 sob a alegação de que impedia a circulação do vento que vinha da Baía de Guanabara e que nele habitava população doente e pobre.
As escavações encontraram ainda centenas de ossos, humanos e de animais, diferentes tipos de garrafas, potes de ungüento, tinteiros, cerâmicas, vários tipos de louças portuguesas e inglesas. ” É possível afirmar que, ao contrário do que se supôs durante todos esses anos, no morro havia, sim, uma parte rica e uma parte de classe média. Um dos aspectos mais profícuos da arqueologia é esse: mostra a história real. A escrita, muitas vezes, pode ser tendenciosa”, afirma a doutora em Arqueologia do Museu Nacional, que coordena as escavações, Tânia Andrade Lima.
As obras de construção de uma praça ao lado dos prédios do MPE, onde haverá a garagem subterrânea, começaram em agosto do ano passado. O primeiro achado, em dezembro do ano passado, foi uma grande amurada de contenção da Praia de Santa Luzia, erguida, provavelmente, no século 19. A obra foi imediatamente suspensa, uma licitação foi feita e contratou-se uma equipe de arqueólogos para descobrir o que mais havia ali. O canteiro de obra tem 11 mil metros quadrados e em diversos pontos foram encontrados objetos. Os mais antigos são louças portuguesas dos séculos 16 e 17.