Brasília – O Supremo Tribunal Federal recebeu anteontem uma queixa-crime contra um ministro do Superior Tribunal de Justiça. A acusação é de assédio sexual contra a filha de um outro ministro do STJ. De acordo com a queixa-crime, o ministro Paulo Geraldo de Oliveira Medina, de 61 anos, teria assediado Glória Maria Ribeiro Portella, filha do ministro Antônio de Pádua Ribeiro. Glória também é assessora de Medina. Medina ainda não se pronunciou sobre o caso. De acordo com a assessoria do ministro, não há definição se ele vai falar sobre a queixa-crime.
A queixa-crime foi encaminhada ao STF pelo advogado de Glória, José Gerardo Grossi. Entre as testemunhas listadas por Glória estão os ministros Francisco Falcão Neto, Eliana Calmon Alves e Nancy Andrighi, todos do STJ. Glória começou a trabalhar como assessora de Medina em julho de 2001. A queixa-crime diz que, a partir de fevereiro deste ano, o ministro passou a ter “atitudes estranhas” e “suspeitas” com a funcionária. O advogado diz que, “um pouco perplexa”, ela não conseguiu, “imediatamente”, interpretar os “olhares pouco usuais, palavras de sentido duplo, insinuações”.
Glória conta que, em março, Medina teria tentado “segurar-lhe as mãos e pediu-lhe que o abraçasse”. Recusando o pedido, ela teria respondido: “Ministro Medina, não temos aqui nem tempo nem motivo para apertos de mãos ou abraços. Vamos ao trabalho que é efetivamente o que nos deve interessar e interessa”. A queixa-crime destaca que a assessora é casada e mãe de dois filhos. “Parece desnecessário dizer da angústia e do sofrimento que o episódio lhe causou”, narra o advogado.
Após esse episódio, Medina não teria desistido do assédio. Em abril, novamente sozinho com ela, o ministro a teria fitado com “olhar enlouquecido, anômalo, totalmente diferente do que ostentava normalmente e, de forma ousada, pediu à querelante que lhe desse um beijo”. Glória teria reagido energicamente: “Ministro Medina, por acaso o senhor está me confundindo com as vagabundas das Minas Gerais? Porque o senhor, com este tipo de conduta, está afrontando não somente a minha pessoa, mas à sua mulher, ao meu marido, aos seus filhos e aos meus filhos, e, ainda, aos meus pais, que muito lutaram para que seu nome fosse incluído na lista tríplice do Tribunal para a nomeação ao cargo de ministro”.
Medina teria se desculpado. A queixa-crime diz que Glória teria passado a evitar a companhia do ministro, esperando que, daí em diante, as relações pudessem voltar a ser “respeitosas”. Em maio, entretanto, o ministro teria dito a ela que ficou “excitado com os ?tapinhas? que esta lhe dera nos ombros”, referindo-se a um telefonema recebido por Medina.