O assunto parece ser tão incômodo que os moradores de Matão, no interior de São Paulo, estão divididos entre os que falam e os que não falam sobre o escândalo que envolve o padre Edson Maurício, de 50 anos, da paróquia de Santo Expedito. Filmado em relação homossexual com um ex-detento de 32 anos, que tentou extorqui-lo, o padre virou pivô do assassinato de um policial militar e acabou suspenso das Ordens da Igreja Católica.

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Na cidade de cerca de 82 mil pessoas, em que 56 mil se declararam católicos no Censo Demográfico de 2010, padre Edson, procurado pela reportagem e por fiéis na sua residência e na de familiares, desapareceu de cena – e deixou os colaboradores mais próximos em um silêncio constrangedor. “Nada a dizer sobre isso. Só quem pode falar é a diocese”, avisa a secretária da Igreja de Santo Expedito, que se identificou apenas como Lizete.

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E teve de falar. Na quinta-feira, 22, o bispo da Diocese de São Carlos, d. Paulo Cezar Costa, invocou o Código de Direito Canônico – a Constituição da Igreja Católica – para decretar a suspensão do padre. A punição levou em consideração o “atentado contra o sexto mandamento do Decálogo”, que diz respeito à castidade do sacerdote, com escândalo público.

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Como consequência, as próximas missas das 10 e 19 horas de domingo no templo, que fica no bairro Benassi, de classe média alta de Matão, serão oficiadas por outro sacerdote. O prédio estava às moscas na tarde desta sexta-feira, 23. As últimas celebrações com bom público foram as do domingo anterior, presididas por Edson Maurício, e ocorreram às vésperas do escândalo que ganhou os celulares dos matonenses.

O caso do padre com o ex-detento veio à tona na noite de segunda-feira, quando o sargento da PM Paulo Sérgio Arruda, de 43 anos, foi assassinado com dois tiros na casa do religioso. Ao delegado Marlos Marcuzzo, da Polícia Civil, o padre acabou contando que teve um envolvimento de foro íntimo com o suposto autor do crime, Edson Ricardo da Silva. Desde o início de fevereiro, Silva fazia ameaças e exigia R$ 80 mil para não fazer revelações sobre o caso. Sem dinheiro, o religioso chegou a negociar com o rapaz, que baixou o valor para R$ 60 mil.

Com medo de continuar sendo achacado, o padre foi a Araraquara conversar com um amigo que trabalha em vendas de veículos usados e este teria dito que buscaria orientação com policiais. Dias depois, o sargento Arruda fez contato com o pároco e orientou para marcar um encontro com o amante a fim de entregar o dinheiro. Na segunda, Arruda e outros três policiais foram à casa do padre, onde seria o encontro. O suspeito chegou com dois amigos, em duas motos. Ao entrarem na casa, viram o sargento e atiraram. Arruda levou dois tiros no peito. O sargento atuava no Batalhão de Araraquara, era casado e pai de três filhos.

Os outros suspeitos foram identificados como Luiz Antônio Venção, de 28 anos, e Diego Afonso Siqueira Santos, de 22. Eles teriam gravado o vídeo e estavam no local do crime. Todos tiveram as prisões decretadas e estão foragidos.

O vídeo com imagens do padre com seu amante está na maioria dos celulares, até de pessoas que falam do caso, mas não querem ser identificadas, como o frentista de um posto onde o padre abastece o carro. “Foi uma coisa chata, que ninguém esperava”, disse.

Católico, mas de pouca frequência à igreja, que fica na rua onde mora, o engenheiro Carlos Cadiolli resume o sentimento. “É muita vergonha, uma pessoa que deveria servir de exemplo. Está sendo ruim para todos, principalmente para a imagem da Igreja Católica”, disse. A faxineira Débora Cayres, de 41 anos, reluta em falar, mas depois diz que se sente traída. “A gente confia na Igreja e nos sacerdotes e ele acabou criando uma situação muito desconfortável.”

Negativa

O advogado de Silva, Luiz Gustavo Vicente Penna, disse que seu cliente negou ter atirado. Segundo ele, Silva tinha um relacionamento homossexual com o padre havia cerca de três anos e o bancava financeiramente. Silva decidiu armar a extorsão depois que o religioso começou a pedir exclusividade e sua mulher, desconfiada do caso, pediu o divórcio. O dinheiro seria dividido com os comparsas. O advogado disse que Silva e Venção, também seu cliente, vão se apresentar à polícia, mas estão com medo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.