Um erro do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) fez com que o agente da extinta Guarda Civil Mauro Henrique Queiroz, condenado em 1959 por ato obsceno contra uma menina de 11 anos, fosse inocentado mais de meio século depois.

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O placar do julgamento, ocorrido em janeiro de 2008 no 3º Grupo de Câmaras Criminais, foi de 12 a 2, contra o pedido de revisão feito pela defesa do réu. Na ata da sessão, no entanto, constou como se todos os desembargadores tivessem votado pela absolvição de Queiroz. A presidência do TJ-SP já determinou a abertura de investigação interna para tentar descobrir o que motivou a falha no processamento do resultado.

Na quinta-feira, 13 dos 14 desembargadores que participaram da sessão em 2008 voltam a se reunir para reafirmar seus votos e retificar a ata do julgamento. O único que não estará presente será o então presidente da sessão, desembargador Antonio Carlos Debatin Cardoso, que se aposentou. A sindicância está sendo conduzida pelo desembargador José Damião Pinheiro Machado Cogan, que preside o 3º Grupo de Câmaras Criminais. Foi ele quem, lendo reportagem publicada no dia 1º pelo jornal “Folha de S. Paulo” sobre a saga da família de Queiroz para provar a inocência dele, percebeu o erro e comunicou ao presidente do TJ-SP, desembargador Roberto Antonio Vallim Bellocchi.

História

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O episódio que resultou na condenação do guarda ocorreu em 22 de janeiro de 1957, quando ele se dirigia para o trabalho. Dentro do ônibus, havia seis homens da Força Pública, todos fardados. Na época, a corporação dividia com a Guarda Civil o trabalho de policiamento da capital – o que acirrava rivalidades de lado a lado.

De repente, um homem começa a xingá-lo. Preso em flagrante pelos policiais da Força Pública, Queiroz foi acusado de se esfregar numa garota de 11 anos. Em um quartel da Força Pública, a versão se torna ainda mais grave: além de se encostar na menina, ele teria colocado o pênis para fora e esfregado no braço dela. Diante de depoimentos conflitantes, Queiroz acabou absolvido em 1ª instância. Mas o recurso da Promotoria acabou acolhido pelo tribunal, que o condenou a seis meses de detenção, suspensa por dois anos sob a condição de comprovar suas atividades a cada seis meses.

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Em 1998, pouco antes de morrer vítima de um câncer no intestino, Queiroz revelou ao filho Amauri sua luta até então silenciosa contra um crime que não cometera. A promessa do filho era de que faria de tudo para corrigir a injustiça. Conseguiu até localizar a suposta vítima de seu pai, que disse em novo depoimento à Justiça que o guarda era inocente.

“Esse erro do tribunal é gravíssimo e não vou deixar barato”, disse o advogado Álvaro Nunes Júnior. “Quando vi o resultado a favor do meu cliente, me surpreendi, claro. Mas imaginei que tivessem voltado atrás. Isso tudo cria uma instabilidade jurídica sem precedentes.”