A Polícia Federal e autoridades do Paraguai estavam no encalço do ex-médico Roger Abdelmassih e de seus familiares em Assunção desde o dia 11. A captura envolveu o mesmo grupo que participou, meses atrás, na Itália, da prisão do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado no julgamento do mensalão, em 2012.
A primeira pista de que Abdelmassih estaria no país vizinho foi obtida em um grampo, em investigação tocada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de São Paulo. Diante da necessidade de cooperação internacional, os dois órgãos acionaram a Polícia Federal, que se articulou com autoridades da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai. Fontes da PF explicaram que, embora o caso não tenha relação com tráfico internacional de drogas, o órgão paraguaio teria participado da operação por ser um tradicional e competente parceiro dos agentes brasileiros em investigações. Para as buscas, a PF mobilizou policiais lotados no Gecap, o grupo especializado em capturas em Brasília. O número de agentes envolvidos na operação não foi divulgado.
Desde segunda-feira passada, os agentes monitoravam os passos do médico para “mapear” sua rotina e identificar o melhor momento para efetuar a prisão. Ele dormiria ontem em Foz do Iguaçu (PR).
Operação
A operação que levou, ontem, à captura do ex-médico Roger Abdelmassih em Assunção, no Paraguai, teve roteiro parecido com o que resultou na prisão de Henrique Pizzolato, foragido do mensalão, no ano passado, na Itália.
Em uma ação combinada entre os dois países, os policiais paraguaios abordaram o ex-médico às 13h30, quando ele saía de um estabelecimento comercial, como se fosse uma simples conferência de documentos de uma pessoa que estava passando pela rua.
Na prática, já se sabia que ele não tinha o registro de entrada no país, o que provocaria sua expulsão para o Brasil, onde era considerado foragido. O mesmo ocorreu com Pizzolato, na Itália, que foi atraído pelos policiais locais para fora de casa, admitindo ter entrado no país com documentos falsos, provocando um processo de extradição.
O grupo que encontrou Pizzolato é o mesmo da Polícia Federal que chegou ao ex-médico: o Grupo Especial de Capturas. Cerca de dez policiais brasileiros participaram da operação. Desde segunda-feira, eles estavam no país, após uma escuta telefônica da Polícia Civil de São Paulo indicar a possível localização do ex-médico.
Abdelmassih, conforme um delegado que participou da operação afirmou ao Estado, confessou aos policiais paraguaios logo de início que não tinha feito imigração para ingressar no Paraguai, assim como não se identificou com o nome verdadeiro. Após ser detido, o ex-médico chorou algumas vezes, pediu para ser solto e para falar com a mulher, o que foi permitido. A mulher dele o aguardava no carro, no momento da abordagem policial. Para os investigadores, ele ficou sem reação ao ser abordado e acabou confessando a entrada ilegal no país.
Carros de luxo. O ex-médico vivia em uma casa confortável, com empregada e babá e mantinha dois carros de luxo. O Estado apurou que todos os bens estavam em nome de terceiros, que serão investigados agora pela polícia por ocultação de bens.
Segundo investigadores, o ex-médico se escondeu no Paraguai desde que fugiu do Brasil, após ser condenado pelo estupro de dezenas de mulheres. A investigação não encontrou evidências de que ele tenha passado pela Europa, conforme chegou a se especular.
O ex-médico não usava disfarce, apenas tirou o bigode e estava sempre de dia com um boné, o que os policiais entenderam ser apenas para se proteger do sol. À noite, ele saía de casa sem o acessório.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.