Enviados mais 70 policiais à Roraima

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Brasília – A Operação Upatakon (nossa terra, na língua macuxi), criada pela Polícia Federal para garantir a homologação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, e tentar evitar conflitos na região recebeu ontem o reforço de mais 70 integrantes, entre delegados e agentes federais. Com isso, sobe para 210 o número de policiais federais envolvidos na operação, de acordo com a PF.

Segundo o secretário estadual do Índio, Adriano Nascimento, a situação na região ainda é tensa, uma vez que desde sexta-feira índios macuxis mantêm reféns quatro policiais federais na aldeia Flechal, no município de Uiramutã, no norte do estado. O secretário esteve no local no domingo e disse que os líderes indígenas continuam exigindo a presença do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para libertar os reféns.

?Eles dizem que é possível uma negociação pacífica, desde que o ministro da Justiça esteja presente?. Ligados à Sociedade de Defesa dos Indígenas Unidos do Norte de Roraima (Sodiur) – entidade vinculada ao governo de Roraima, que é contrário à homologação da reserva Raposa Serra do Sol em área contínua -, os índios fizeram os quatro policiais federais reféns na sexta-feira. Eles querem que o governo federal reveja sua decisão sobre o assunto.

De acordo com Nascimento, a aldeia Flechal abriga cerca de 750 índios da etnia macuxi, mas ontem já havia entre 1,3 mil e 1,5 mil indígenas reunidos no local. ?São índios que vieram de comunidades próximas e que também são contrários à homologação contínua da Raposa Serra do Sol?, explicou.

Outra preocupação do secretário é que as duas rodovias bloqueadas pelos índios em protesto contra a homologação permanecem fechadas. ?Ontem, eles bloquearam a BR-174, na entrada de Pacaraima e no sábado, a rodovia estadual que dá acesso à Uiramutã?, contou Nascimento. Segundo ele, agora só é possível chegar à aldeia de avião ou helicóptero. Adriando Nascimento afirmou ainda que os policiais federais mantidos reféns estão sendo bem tratados na aldeia Flechal. ?Eles não estão detidos, podem circular no local?, disse.

Estratégia

O superintendente da Polícia Federal em Roraima, José Francisco Mallmann, coordenou reunião ontem, em Boa Vista, com o objetivo de definir estratégias para a libertação dos quatro policiais federais mantidos reféns. Participaram da reunião a chefe da Delegacia contra o Crime Institucional, Fabíola Piovesan, e o coordenador da Operação Upatakon, Osmar Tavares de Melo, além de outros delegados da PF.

Governo avisa que não recua

São Paulo – O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, assegurou ontem que o governo não recuará na homologação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, apesar da tensão na região por causa da homologação. ?Estamos num processo de negociação para resolver esses conflitos, mas a homologação é um fato consumado, é um marco na história indígena brasileira e é um bem para Roraima e para a estabilidade fundiária?, argumentou o ministro. Thomaz Bastos informou que hoje, no final da tarde, o governador de Roraima, Ottomar Pinto (PTB), estará em Brasília para discutir a questão. O ministro da Justiça disse que pode ir a Roraima. ?Se precisar, eu irei. Este é um dos lugares mais bonitos que eu já visitei?. Apesar da afirmativa, Bastos disse que as negociações para encerrar os conflitos, naquela região, estão sendo muito bem conduzidas. O seqüestro de policiais federais pelos índios macuxi tenta ?viabilizar legalmente a grilagem de terras?, disse o vice-presidente do Conselho Indigenista Missionário, Saulo Feitosa. ?O risco que se corre no momento é passar quatro milhões de hectares de terra para as mãos de quatro ou cinco grandes latifundiários?, disse.

Índios fazem mobilização nacional por demarcação de 14 áreas

Brasília – A tensão na reserva Raposa Terra do Sol, em Roraima, foi destaque ontem na abertura da mobilização nacional Terra Livre, movimento que até sexta-feira deve reunir em Brasília pelo menos 600 representantes de comunidades indígenas de várias regiões do País. A mobilização tem como principal reivindicação a homologação imediata de 14 terras indígenas, maior agilidade no processo de demarcação de terras e a criação de um Conselho Nacional de Política Indigenista.

Dionito Macuxi, líder de uma comunidade da reserva recém-homologada, garantiu que o problema na Raposa Serra do Sol é provocado por um grupo isolado de índios, incentivados por arrozeiros do local.

Grilagem

O vice-presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Saulo Feitosa, avalia que a crise tem como alvo não a própria reserva, mas 5 milhões de hectares de terras devolutas, que estão na mira de fazendeiros e políticos da região. ?A Raposa do Sol eles já deram como caso perdido. A crise foi criada como forma de pressionar a liberação destas terras para o Estado. O que eles querem é legitimar a grilagem?, disse.

Dionito Macuxi disse não haver risco de os quatro agentes da Polícia Federal tomados como reféns serem feridos. ?Esta é uma tática usada há vários anos por esses grupos. Sempre vemos agentes da Funai ou outras instituições tomados por esses grupos?, lembrou Feitosa.

As lideranças defendem que o Conselho Nacional de Política Indigenista tenha entre seus integrantes representantes dos povos indígenas e de outras organizações da sociedade civil. O grupo quer, ao longo desta semana, reunir-se com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, com o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Gomes, e com ministro da Casa Civil, José Dirceu.

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