Lula afirmou que não se preocupa com as
vaias, e as considera até importante.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um discurso vibrante e emocionado no 8.º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e chegou a chorar, ao se defender dos protestos e até algumas vaias de servidores contra a proposta de reforma da Previdência e a condução da política econômica do governo. Em alguns momentos, o presidente parecia estar fazendo um desabafo.

“O que não pode é alguém julgar uma criança que ainda está no ventre da mãe. Portanto, não vamos bater os braços nem gritar desesperados porque se pode morrer afogado desnecessariamente.” Lula afirmou que não se preocupa com vaia – comandada pelo grupo do PSTU – e a considera tão importante quanto o aplauso. “Tem gente que me vaiava porque eu queria criar o PT, tem gente que me vaiava porque eu queria criar a CUT”, lembrou. E mandou o recado: “Em vez de alguns companheiros tão preciosos fazerem faixa contra, seria muito melhor dizer o que querem.”

Entre aplausos e gritos de “Lula, Lula” da platéia, o desabafo continuou. Ele lembrou as três eleições que perdeu e disse que os preconceituosos argumentavam que não poderia ser presidente do Brasil porque não sabe falar inglês e não teria como “dialogar com o Bush.” “Eu estou provando que não preciso falar inglês para ser respeitado no mundo. Eu só preciso falar a língua de 175 milhões de brasileiros para ser respeitado no mundo”, rebateu, emocionado.

Lula conclamou mais uma vez os diversos setores da sociedade à união pelo Brasil: trabalhadores, empresários, sem-terra, homens, mulheres, brancos e negros. “Levanto todo dia com a certeza de que vamos conseguir transformar esse País. Vamos transformar porque temos consciência da importância do País no cenário mundial e clareza das coisas que vamos fazer”, afirmou.

O presidente reafirmou que fará as reformas de que o Brasil precisa, e prometeu fazê-las “com a maior tranqüilidade.” Segundo Lula, ninguém vai virar amigo ou inimigo dele por apoiar ou não as reformas. Em discurso, afirmou que “o presidente não pode perder a noção do que ele próprio espera de si e dos compromissos históricos assumidos há mais de 30 anos.” “Não vou esquecer de nenhuma das coisas que assumi na minha história política. Não tenho vergonha do que fui, do que sou e não tenho vergonha do que serei”, garantiu.

Presidente chateado

Pela primeira vez, Lula admitiu estar chateado com a falta de divulgação dos projetos do governo. Disse que ficou surpreso quando lançou o programa para doentes mentais, que poderão ser tratados em casa, e o maior destaque do noticiário foi dado para a mulher evangélica que participou do evento e citou o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, num discurso não autorizado. O episódio deixou o presidente constrangido.

Política externa

Lula prometeu melhorar a integração brasileira com a América Latina. “Pela primeira vez estamos concretizando o sonho da integração latino-americana. Porque é um discurso fácil de fazer, mas não há integração política, econômica e comercial sem integração física, e integração física pressupõe estradas, pontes, ferrovias e aeroportos, e se nós não fizermos isso o discurso de integração é balela.”

Após a participação da última reunião do G8 na Europa, o próximo compromisso internacional de Lula será no dia 20, em encontro com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush.

Ministros também são vaiados

São Paulo – Os ministros do Trabalho, Jacques Wagner, e da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci, foram vaiados durante o 8.º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Ambos foram vaiados pela platéia ao serem anunciados para discursar.

No caso de Wagner, os protestos continuaram durante seu pronunciamento, especialmente quando mencionou o aumento do salário mínimo e a reforma da Previdência. O ministro do Trabalho defendeu a proposta de reforma encaminhada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, segundo ele, “não irá precarizar ou empobrecer a classe trabalhadora.” Wagner também reafirmou o lançamento do programa Primeiro Emprego, na última semana de junho, e a instalação do fórum trabalhista, em julho.

Na terça-feira, o ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, e o presidente do PT, José Genoíno, foram vaiados na abertura do congresso, que acontece no Anhembi, em São Paulo.

Felício pede respeito à imagem

São Paulo – O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), João Felício, disse ontem que a imagem do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, precisa ser “preservada”, mesmo quando a entidade discordar das propostas do governo. A afirmação foi feita em discurso no 8.º Congresso Nacional da CUT.

“A figura do Lula é diferente, como se fosse o nosso irmão. Vamos respeitar a figura dele, mesmo quando fizermos manifestações em Brasília por discordarmos das decisões do governo”, apontou. “Quem sabe conseguiremos reelegê-lo e ele permanecerá por oito anos na Presidência da República?”, complementou.

Felício disse também que a central continua acreditando que apenas Lula será capaz de mudar a economia do País, priorizando a área social. “Quando tivermos de dizer que concordamos com o governo, o faremos publicamente. Quando discordarmos, apresentaremos emendas, como no caso da reforma da Previdência. É assim que realizamos o sindicalismo autônomo”, afirmou.

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