Entidades representativas dos economistas no País divulgaram manifesto chamando a atenção para o risco de eventual cerceamento à liberdade de produção no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A nota, assinada pelo Conselho Regional de Economia (Corecon SP), Fundação Nacional de Economistas (Fenecon) e Ordem dos Economistas do Brasil (OEB), foi divulgada dias depois do manifesto em favor da gestão de Márcio Pochmann à frente do Ipea, subscrito pelo Conselho Regional de Economia do Rio.
Os dois comunicados expõem a polêmica entre entidades que representam os profissionais do setor. "Nem nos piores momentos políticos vivenciados no país, inclusive no período da ditadura, tentaram calar o Ipea. O episódio das demissões sinaliza para o ‘temor’ de que a independência do instituto esteja ameaçada, isso preocupa economistas e entidades que os representam", registra nota do Corencon/SP, Fenecon e OEB.
O presidente do Corecon/SP, Wilson Roberto Villas Boas, explica que as entidades não estão criticando as demissões porque faltam "informações suficiente para avaliar se tiveram ou não origem de ordem política". "Temos conhecimento que estavam para acontecer muito antes do Márcio Pochmann (novo presidente do Ipea) entrar. Já havia o rumor de que os economistas não-alinhados estavam passíveis de demissão", afirmou. Segundo o economista, a preocupação é de que haja cerceamento. "O pensamento diferente faz parte do debate econômico. Não é a linha estatizante ou privatista que deve prevalecer no instituto", disse o presidente do Corecon/SP. O Corecon/RJ divulgou posição diferente.
Apoio
"No caso em análise, a mudança no comando do Ipea traduz a nova orientação (embora ainda tímida e incompleta) do presidente Lula no sentido de melhorar os resultados obtidos pelo Brasil em termos de desenvolvimento", afirma a nota de apoio ao Ipea. O texto diz ainda que é natural que o órgão "seja comandado por dirigentes afinados com a nova orientação desejada pelo Governo". "E esses dirigentes, para levarem adiante sua tarefa, devem ajustar a equipe técnica do órgão às suas novas funções", registra o comunicado.
Os economistas afastados defendiam a redução do crescimento do gasto público e preocupações fiscais. Os economistas do Ipea Fábio Giambiagi e Otávio Tourinho saíram sob o argumento de que os convênios entre o BNDES, de onde são, e o instituto haviam acabados. Já Regis Bonelli e Gervásio Rezende foram afastados porque, segundo o Ipea, estavam aposentados e usando as instalações do instituto. O Ipea argumenta que as decisões foram administrativas e que não houve critérios ideológicos.