Encontro discute futuro da esquerda latino-americana

O futuro da esquerda na América Latina e os cenários pós-eleitorais do Brasil serão dois dos principais assuntos do XXVI Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), que começou hoje à noite, em Caxambu (MG), e vai até a próxima sexta-feira. Para comemorar os 25 anos da entidade, a Anpocs promete realizar o maior encontro de sua história, com 1.500 participantes e a apresentação de mais de 300 estudos, com 25 grupos de trabalho e 15 mesas redondas.

Além da esquerda latino-americana e do processo eleitoral, o encontro discutirá outras questões polêmicas, como a crise da Argentina e a atuação da mídia nas eleições de 2000.”São questões cruciais discutidas em um momento também crucial para o País”, avalia a socióloga Maria Arminda do Nascimento, professora da USP e secretária-geral do encontro. Um dos temas que mais preocupa a professora é a crise da Argentina. “No fundo, estamos pensando: será que as sociedades podem ser desmontadas? O que isso significa?”, pergunta ela. “Não somos uma Argentina, mas não estamos no melhor dos mundos.”

Também para a professora Rachel Meneguello, cientista política da Unicamp, o encontro, a cinco dias da decisão do segundo turno, não poderia ocorrer em um momento mais oportuno. Coordenadora da mesa redonda “Os partidos de esquerda nos processos políticos recentes da América Latina”, Rachel acha que este segundo turno entre candidatos de centro-esquerda forma um pano de fundo ideal para a discussão do tema. Segundo ela, “o crescimento da esquerda latino-americana pode ser explicado pela organização partidária, a capacidade crescente de agregação das preferências e as políticas adotadas por seus partidos, na oposição ou no governo”.

Fator Bush

Outras razões apontadas pela cientista da Unicamp são a política do presidente americano George W. Bush e o esgotamento do chamado Consenso de Washington, cuja melhor tradução, na sua opinião, foi a crise enfrentada pela Argentina. “Esses fatores têm ajudado a reforçar o resgate de propostas nacionalistas, de autodefesa do mercado interno e superadoras do neoliberalismo”, acredita a especialista.

Além desses temas políticos, o encontro da Anpocs vai discutir diversos assuntos ligados à Ciência Política, Antropologia e Sociologia. Assuntos como emprego, genética, cultura na América Latina e crise no Oriente Médio também serão debatidos.

Entre os convidados estarão três conferencistas internacionais: Marcel Fournier, do Canadá; Manuel Villaverde Cabral, de Portugal; e Klaus Eder, da Alemanha. A quarta conferência será feita pelo presidente da Anpocs, Roque de Barros Laraia, antropólogo da UNB. Na mais esperada, Klaus Eder defenderá a importância de uma nova política de classes, diferente da noção marxista, para compreender a sociedade moderna.

Mais do que discutir teses, os cientistas também estarão preocupados em avaliar seu próprio papel na sociedade. “As ciências sociais têm no mundo atual uma importância crescente”, defende Maria Arminda. “Há processos de transformação na cultura, nos movimentos políticos, no terrorismo… E a melhor maneira de explicar esses fenômenos não é pela via ideológica, mas pelas ciências sociais.”

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