Brasília
(AG e agências) – O encontro que o presidente Fernando Henrique Cardoso vai manter com os candidatos a sua sucessão, nesta segunda-feira, está bem perto de um grande fiasco. O presidente vai detalhar para os presidenciáveis o acordo firmado entre o Brasil e o FMI e, em seguida, vai questioná-los sobre se concordam ou não. “Vai ser uma conversa inédita, que nunca houve na história do Brasil, e natural, porque somos todos brasileiros”, disse.O presidente afirmou que vai falar também de responsabilidade. “Os candidatos devem ter uma responsabilidade patriótica, mais do que partidária. Ninguém ganha com a crise, e o povo perde”, disse. Segundo Fernando Henrique, se algum candidato evitar esse caminho perderá credibilidade, compostura e votos. “O povo interpreta o exagero demagógico de campanha. É preciso que se explique mais (o acordo com o Fundo) para que os candidatos não façam exercícios de retórica afirmou.
No entanto, depois de feitos e aceitos os convites há um grande suspense no ar. Tanto o presidente e seus auxiliares, quanto os convidados, estão preocupados. Os candidatos, principalmente os de oposição, temem se comprometer com um acordo que possa ser impopular e com isso afetar as suas campanhas, enquanto no governo o temor generalizado é de que alguém tente tirar proveito político desse encontro inusitado. Há no Planalto um receio indisfarçável quanto às reações dos candidatos, especialmente de Ciro Gomes, que tem feito o gênero “fala o que pensa”, sem se preocupar se está sendo ou não malcriado.
Tudo leva a crer que os candidatos de oposição vão manter um comportamento dúbio e confuso: não podem condenar o acordo com o FMI pois podem ser responsabilizados por seu eventual fracasso e não podem aceitá-lo de imediato, para não ser confundidos como candidatos que foram “domesticados” pelo mercado. Se o objetivo do governo foi o de dar sinais positivos ao mercado, isso pode não estar acontecendo.
O encontro está sendo visto com ceticismo por analistas na Europa. Mas para Peter West, do banco Bilbao Viscaya de Londres, há poucas chances de que as conversas da segunda-feira mudem o humor do mercado. “O problema é que os candidatos de oposição não têm interesse em aprovar o acordo e a política do governo com a ênfase que o mercado deseja”, disse West.
Segundo vários analistas e economistas estrangeiros, as declarações de Lula e de Ciro Gomes – os dois líderes da campanha – dão margem a dúvidas sobre suas políticas econômicas.