Brasília
– À exceção do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, que fez um discurso mais político, o tom das conversas dos empresários de todo o Brasil, presentes ao lançamento da Agenda Legislativa do setor, ontem, em Brasília, foi de crítica à lentidão do governo para encaminhar as reformas constitucionais. Todos, inclusive o anfitrião Monteiro, lamentaram o fato de os temas da agenda da indústria no Congresso serem recorrentes, porque as reformas não avançam.O mais enfático nas cobranças foi o ex-deputado e empresário Carlos Eduardo Moreira Ferreira, que preside a comissão de assuntos legislativos da CNI. “Até o momento tenho visto muita intenção, análise e desejos, mas a ação do governo não tem correspondido à velocidade de que o Brasil precisa e esse ritmo precisa ser acelerado”, cobrou Moreira Ferreira, recorrendo à uma velha máxima do jogador Dadá, para aconselhar o Executivo: “Vamos deixar dos entretantos e partir para o finalmente”. A despeito dos reparos, em se tratando de reformas, as prioridades do governo e da CNI coincidem. Tanto os empresários como o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), reafirmam que os itens mais urgentes na agenda legislativa são as reformas tributária e previdenciária. Moreira Ferreira não foi o único a externar insatisfação.
Preocupado com a demora, o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva, sugere ao governo que concentre esforços para apresentar suas propostas de reforma dentro de 35 a 40 dias. “O presidente Lula vai errar se jogar esta questão para o segundo semestre”, opinou. Piva avalia que falta ao governo deixar claro o que realmente quer, em meio aos projetos de reforma tributária que tramitam no Congresso. “Além de não explicitar suas propostas como gostaríamos, o Executivo tem que lidar com parcelas de sua base de apoio que estão inquietas”, completou Piva.
“A ansiedade é muito grande, mas não queremos que o governo acelere a votação sem antes reduzir ao mínimo as polêmicas das reformas. Tem que haver muita costura e negociação antes de partir para o voto”, ponderou, por sua vez, o presidente da Federação das Indústrias da Paraíba, Francisco Gadelha, sinalizando outra preocupação do empresariado: a fragilidade da base de apoio do governo no Congresso.
Mais otimista, o presidente da CNI, Armando Monteiro, acredita que a falta de votos não será problema para o governo no exame das reformas. “Infelizmente, as reformas continuam inconclusas, mas temos um governo novo, uma energia política nova que será um combustível importante para levar adiante esta agenda”, disse. Embora reconheça que o governo não tem maioria numérica no Congresso, ele se diz otimista porque, diferentemente de há quatro anos, agora a sociedade está madura e compreende o custo do atraso nas votações.