Os irmãos empresários do setor de transporte de Minas Gerais Robson e Rômulo Lessa admitiram ter comprado supostas vacinas contra a Covid-19, em depoimento dado à Polícia Federal.
O caso foi revelado na semana passada pela revista piauí.
A PF, no entanto, trabalha com a hipótese de que as doses aplicadas a cerca de 50 pessoas na última terça-feira (23) em uma garagem de Belo Horizonte seriam falsas, como foi adiantado pelo jornal Folha de S.Paulo.
Nesta terça (30), a PF cumpriu mandados de busca e apreensão na casa de Cláudia Mônica Pinheiro Torres de Freitas, que seria enfermeira, suspeita de participar da suposta vacinação irregular. Também houve busca em uma clínica.
A garagem onde a suposta vacinação ocorreu pertence a uma empresa de transporte que seria ligada aos irmãos Lessa. A reportagem não conseguiu contatar os empresários ou a defesa deles.
A movimentação na garagem foi filmada por vizinhos do local.
Segundo a reportagem da piauí, entre os vacinados estariam empresários e políticos de Minas Gerais, que teriam pago R$ 600 pela dose.
As vacinas seriam do laboratório Pfizer, que já tem autorização da Anvisa, mas cujas vacinas ainda não estão sendo aplicadas no Brasil.
A PF divulgou imagens do material apreendido na ação desta terça.
Foram encontrados um cartão de vacina assinado “Vacina Covid Pfizer 24/03/21”, seringas e o que parecem ser medicamentos.
A PF encontrou soro e ampolas em um endereço ligado à enfermeira. Os materiais foram apreendidos e serão encaminhados para a perícia criminal.
Desde a divulgação do caso, a Pfizer nega comercialização do imunizante em território brasileiro ou “fora do âmbito do Programa Nacional de Imunização”.
A enfermeira, o filho dela e um homem foram conduzidos para prestar depoimento.
Segundo a PF, a mulher, que tem passagem por furto, teria vendido vacinas ilegais para outras pessoas além do grupo que é investigado pela operação atual.
Na última sexta-feira (26), em outra ação, que cumpriu seis mandados de busca e apreensão, os policiais encontraram uma lista com nome de 57 pessoas que supostamente teriam sido vacinadas na garagem.
A enfermeira e o filho, Igor Torres de Freitas, são suspeitos da comercialização e aplicação das doses.
Além da possibilidade de que as doses sejam falsas, a PF trabalha com outras duas linhas de investigação: que as vacinas tenham sido importadas ilegalmente, provavelmente do Chile, ou que os medicamentos tenham sido desviados do Ministério da Saúde.
Até o momento, a vacinação no país tem contemplado apenas grupos prioritários, divididos por faixas etárias, além de pessoas com comorbidades, e sempre pelo SUS.
Um grupo de empresários tem feito lobby junto ao governo e ao Congresso Nacional para que seja possível a aquisição de vacinas por empresas privadas.
A lei aprovada no Congresso permite essa hipótese, mas apenas a imunização de todos os grupos prioritários, e ainda assim doando metade do que for comprado para o sistema público.