Empresa de dekassegui serve sobremesas ao príncipe Naruhito

O príncipe herdeiro do Japão, Naruhito, vai conhecer as delícias das sobremesas feitas sob a batuta do dekassegui Nilo Katsuo Kato, dono da confeitaria Hachimitsu em Londrina. O empresário, após anos de trabalho no Japão, buscou apoio no Sebrae para estruturar sua empresa, hoje sucesso na cidade.

Na passagem por Cambé e Rolândia, para as comemorações dos 100 anos da imigração japonesa no Brasil, neste domingo (22), o príncipe herdeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a comitiva oficial vão saborear nove tipos de sobremesas feitas com frutas tropicais, dentre as quais a banana. A Hachimitsu será a única confeitaria a servir sobremesas à comitiva e o empresário adianta que uma delas será mousse de maracujá.

Mas as delícias servidas na pequena Confeitaria Hachimitsu não páram por aí. São mais de 30 opções à disposição dos clientes como o éclair, a famosa ‘bomba’ francesa que vem nos sabores chocolate escuro, branco, creme e café; a mousse de chocolate, morango, menta, laranja, goiaba e maracujá; cheesecake; bolo de morango; bolo prestígio.

O doce sabor da confeitaria é resultado do esforço, garra e empreendedorismo do empresário Nilo Katsuo Kato. Dekassegui, neto de japoneses, morou 14 anos no Japão e ao voltar ao Paraná decidiu abrir seu próprio negócio. Para apoiar empreendedores como Kato, o Sebrae, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Associação Brasileira de Dekasseguis (ABD) desenvolvem desde 2005 o Programa Dekassegui Empreendedor.

O programa tem como finalidade apoiar os dekasseguis (nipo-brasileiros que vão ao Japão em busca de trabalho) em três momentos: antes da ida, no Japão, e no retorno ao Brasil. O Dekassegui Empreendedor pretende dar suporte a essas pessoas para que montem negócios de forma sustentável e apliquem neles de forma devida suas economias. Em 2008, comemora-se o Centenário da Imigração Japonesa no Brasil.

Nilo Katsuo partiu para o Japão em maio de 1990, quando tinha 24 anos. Viajou junto com dois irmãos, Odílio e Oswaldo. Na época, havia começado a cursar Administração de Empresas e trabalhava como encarregado de compras em uma construtora. ?Muitos amigos haviam ido para o Japão e economizavam em um ano o que eu levaria dez para ganhar aqui. O Brasil enfrentava a estagnação econômica e queria fazer meu pé-de-meia?, lembra o paranaense.

Inicialmente, Nilo morou em Tóquio. Na capital do país oriental trabalhou com montagem de peças na Honda. Depois de dois anos nessa cidade, transferiu-se para Toyota. Na cidade que dá nome à famosa fábrica de veículos, conseguiu um emprego em uma empresa que fornecia peças para montadoras.

Após dois anos em Toyota, partiu para Hiroshima, onde permaneceu três anos e atuou na construção civil, em linhas de ferragens. Finalmente, fixou residência em Toyokawa. Ali ficou até o regresso ao Brasil. Em 1998, passou a trabalhar no setor administrativo de uma companhia local. Nesse emprego, estabelecia uma ponte entre os dekasseguis e os patrões japoneses.

Paciência oriental

O paranaense conta que teve uma convivência muito boa com o povo nipônico. Para melhorar o relacionamento, esforçou-se para aprender o idioma japonês. ?Quando era criança, conversava muito em japonês com os meus avós. Depois que morreram, perdi um pouco do contato com a língua?, recorda.

Nilo diz que aprendeu muito com os costumes do Japão. ?Acho incríveis a paciência oriental, a disciplina, a pontualidade, a persistência. Eles sempre querem melhorar algo?, revela. O empresário informa que aplica muito do que aprendeu com os japoneses no dia-a-dia de sua confeitaria.

Nilo diz que em seu estabelecimento, ao contrário de muitos empresários, dá oportunidade a pessoas sem muita experiência. O empresário de Londrina acredita na importância do primeiro emprego e pensa que a falta de experiência pode ser compensada pela vontade de aprender. ?Se você incentiva, a pessoa vai longe. Procuro conversar com meus colaboradores, falar dos problemas da empresa e dar liberdade para que eles criem?, diz.

Retorno

Mesmo com a boa ambientação no País do Sol Nascente, em um dado momento Nilo Kato se deu conta de que havia chegado a hora de voltar ao Brasil. ?Fiquei feliz de ter ido ao Japão. Se precisasse, iria de novo. Adoro aquele país, mas meu sangue é brasileiro?, lembra.

Nilo lembra que pesou na decisão do retorno o desejo de que seu filho, Hugo, nascido no Japão, crescesse no Brasil. ?Queria que ele tivesse a convivência com os tios, os primos e os avós?, revela. Apesar desse forte desejo, Kato diz que ao regressar ao Brasil, sentiu-se um estrangeiro. ?Havia passado 14 anos fora, em outra realidade econômica e cultural. Levaram alguns meses para me readaptar?, explica.

Ao chegar a Londrina, o empreendedor nipo-brasileiro resolveu concretizar um velho sonho de criar o próprio negócio. No Japão, sua esposa, Suely, dedicou-se por cerca de cinco anos a cursos de culinária dos doces franceses. ?No Japão, a cozinha francesa é muito popular?, garante.

Nilo conta que a esposa transmitiu técnicas de culinária desses doces para ele e outros membros da família. O hobby terminou virando uma opção adicional de renda. Nos fins de semana, Nilo e a esposa atendiam a encomendas de bolos e outros doces para festas de aniversários de brasileiros que moravam no Japão.

No regresso ao Brasil, a confecção de doces deixou definitivamente de ser um hobby para trazer o sustento da família. A influência francesa na produção das iguarias ganhou colorido brasileiro com a adoção de frutas tropicais nas receitas. ?O brasileiro é privilegiado pela mistura de povos. A gente tem de tudo um pouco?, celebra.

Casos de sucesso e plano de negócios

Uma semana após a inauguração da Confeitaria Hachimitsu, Nilo já estava no Sebrae em Londrina, em busca de orientação empresarial. ?Eu deveria ter ido até antes disso, mas me faltou tempo?, diz.

Após uma entrevista, o empresário realizou o curso ?Plano de Negócios?. ?Esse curso me ajudou muito em várias questões da minha empresa como, por exemplo, lidar com os custos?, afirma Nilo. Ele também revela que adquiriu muitos conhecimentos com a leitura de publicações do Sebrae voltadas à gestão dos negócios.

O proprietário da Hachimitsu adianta que em breve pretende participar do seminário Empretec, do Sebrae. Essa programação trabalha nos participantes os comportamentos empreendedores, como o estabelecimento de metas a capacidade de calcular riscos. ?Todo mundo que faz fala muito bem. Dizem que não serve só para os negócios, mas para a vida?, observa.

Nilo participou recentemente de um encontro em Londrina para narrar sua trajetória profissional e de vida para 200 pessoas, entre elas muitos dekasseguis. O empresário paranaense ainda terá sua história brevemente publicada na série de livros ?Casos de Sucesso?, editados pelo Sebrae. ?Acho essa série de livros maravilhosa. Ajudou-me muito ler os relatos de outros dekasseguis, pois, muitas vezes, as dificuldades são comuns e eles conseguiram superar obstáculos?, assinala.

Ao pensar nos jovens dekasseguis que começam a trilhar caminhos semelhantes ao dele e pensam em partir para trabalhar no Japão, Nilo aconselha: ?Não vão apenas buscar o dinheiro. Aproveitem a experiência e observem o dia-a-dia. Isso é algo que vai ficar para o resto da vida com vocês?.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo