As manifestações em frente à residência oficial da embaixada brasileira em Quito continuaram ontem, mas estão controladas, segundo informações da assessoria do embaixador brasileiro Sérgio Florêncio.
Brasília (ABR e AE) – Os manifestantes protestam contra a presença na embaixada do ex-presidente, Lucio Gutiérrez. Segundo a assessoria, na noite da última sexta-feira, em função da grande agitação, o embaixador não conseguiu deixar a casa para encontrar-se com o chanceler equatoriano. O carro foi cercado por manifestantes no portão da embaixada.
O Brasil ainda aguarda o sinal verde do governo equatoriano para buscar Gutierrez no Equador. O avião da Força Aérea Brasileira (FAB) está de prontidão em Porto Velho (RO) desde quinta-feira. A embaixada não tem previsão de quando poderá sair a determinação de salvo-conduto, mas garantiu que o governo equatoriano está analisando a questão.
A polícia equatoriana reforçou a segurança em Quito e o governo brasileiro está confiante de que, assim que for concedido o salvo-conduto, a polícia daquele país terá condição de transportar Gutiérrez até o aeroporto, para embarcar com total segurança no avião da FAB.
Nepotismo
Foi uma seqüência de eventos que enojou os equatorianos. Primeiro, o presidente Lucio Gutiérrez costurou uma aliança com o magnata da banana Álvaro Noboa, até então líder da oposição. Juntos, seus deputados destituíram, no dia 8 de dezembro, 27 dos 31 juízes da Corte Suprema, substituindo-os por amigos. Depois, a Corte absolveu o ex-presidente Abdalá Bucaram, que fugiu para o Panamá em 1997, e que já havia sido condenado por corrupção. Bucaram, acusado de levar consigo milhões de dólares em sacos, voltou triunfalmente no dia 2, pousando de helicóptero em Guayaquil. Diante da onda de protestos, Gutiérrez dissolveu a Corte no dia 15, o que foi considerado a gota d?água.
Mas a irritação já vinha de muito tempo. Gutiérrez era um nepotista metódico, que faria Severino Cavalcanti parecer um iniciante. Seu irmão Gilmar, deputado pelo Partido Sociedade Patriótica 21 de Janeiro, que Gutiérrez fundou em homenagem ao golpe de 2000, estava a cargo dos negócios com petróleo, dos quais teria, segundo denúncias, arrecadado maciçamente.
A irmã, Janete, era sua secretária pessoal, com um salário de US$ 6 mil. O cunhado, Napoleón Villa, foi candidato a governador da província de Pichincha (onde fica Quito), tendo a seu dispor helicóptero e outras facilidades fornecidos pelo governo, mas nem assim se elegeu. Depois, Gutiérrez quis colocá-lo no Tribunal Andino, mas foi recusado, por falta de qualificação. Villa tinha outra chave de cofre: cuidava do Fundo de Solidariedade. O filho de seu primo-irmão Renán Borbúa, que não tem diploma nem de segundo grau, tornou-se agregado da embaixada em Washington, com um polpudo salário. A lista é grande. Outros temas estão vinculados a um forte antiamericanismo entre os equatorianos. Entre eles o uso da base de Manta, no litoral norte do país, pelos militares americanos engajados no combate à guerrilha e ao narcotráfico na Colômbia. ?Estão nos metendo numa guerra que não nos corresponde?, diz o empresário Jorge Escobar. O novo governo do presidente Alfredo Palacio, que foi vice de Gutiérrez, mas rompeu com ele, estuda pedir a saída dos americanos de Manta.