O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rompeu ontem o silêncio dos últimos seis dias para responder à declaração de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, de que a ?ética do PT é roubar?. Em uma rápida entrevista a jornalistas brasileiros, logo após concluir sua visita à comunidade de descendentes de escravos e mercados de escravos brasileiros, Lula afirmou que ?não é obrigado a ler tudo o que determinadas pessoas falam?.
Entretanto, respondeu pontualmente à questão levantada por FHC, hoje a voz mais contundente de oposição a seu governo. ?Esse é um problema que o PT saberá cuidar.? Quinta-feira, o presidente havia apenas raspado nessa questão. Afirmara a jornalistas, proibidos por sua assessoria de tocar no assunto, que não deixaria que o ?nervosismo eleitoral? o desviasse de sua atribuição de governar até o final de seu mandato, em 31 dezembro deste ano.
Na quarta-feira, o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, que o acompanha no seu quinto périplo pela África, tomou a frente e contra-atacou. Afirmou que FHC agira de forma ?irracional?, movido por ?inveja e rancor?, e que ?usurpa o espaço? de outros políticos interessados em se candidatar à presidência no seu partido, o PSDB, e no PFL. Recomendou ainda a Fernando Henrique o recato do também ex-presidente Fernando Collor de Mello, que preferiu a renúncia, em 1992, ao impeachment.
Ontem, Lula voltou a afirmar que ainda não ?conversou com ninguém? sobre sua possível candidatura à reeleição e que não tem ?nenhuma pressa? para chegar a uma decisão. ?Eu tenho de governar. Eu só queria pedir o seguinte: que as pessoas deixassem a gente governar?, insistiu, em tom de apelo.
Na mesma linha das declarações anteriores, Lula afirmou que fará, no último dia de seu mandato, em 31 de dezembro deste ano, uma ?avaliação das coisas que aconteceram no Brasil? durante seu governo. Voltou a dizer que plantou ?sementinhas, que estão brotando e que, neste momento, está no período de colheita? – em uma alusão ao seu programa de governo. Para Lula, a eleição deste ano é algo ?circunstancial? e tem de estar ?subordinada ao projeto de Nação?, não o contrário. ?Essa colheita pode incomodar as pessoas que não queriam que (seu programa de governo) desse certo?, afirmou. ?Acontece que não estamos governando para os políticos, mas para o povo brasileiro.?
Presidente vai a ritual vodu
Ouidah, Benin (AE) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu ontem, na visita ao Benin, ?fechar o corpo? de ?espíritos? invocados pelo ritual vodu, com a disposição de quem pretende se livrar da ?urucubaca? que alegou assolar o governo. Na ida à chamada Porta do Não-Retorno, o local onde os escravos eram alojados e embarcados ao Brasil, Lula foi recebido por autoridades locais, um grupo de cantores e dançarinos tribais e também por ?espíritos?, entidades cobertas de palha colorida que rodopiavam para ele num sinal de concessão de bênçãos e proteção. Ao ser avisado de que as entidades poderiam ?fechar o corpo? e ?acabar com a urucubaca?, Lula entusiasmou-se e aproximou-se mais delas: ?Vamos ver.?
