Graças a uma cenografia carregada de simbolismos, com cores, sons e ambientações, percorrer os ambientes do novo Memorial do Holocausto, que será aberto ao público no próximo domingo, dia 12, em São Paulo, provoca emoções. A ideia, como destacam seus idealizadores, é comover. “Holocausto só houve um e vitimou 6 milhões de judeus”, pondera o professor e historiador Reuven Faingold, PhD em História e História do Povo Judeu pela Universidade Hebraica de Jerusalém e responsável pelos projetos educativos do espaço. “Mas é claro que aqui estamos falando da intolerância e da xenofobia. Para que perseguições assim não ocorram novamente.”

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O Memorial do Holocausto está instalado no piso superior do Memorial da Imigração Judaica, museu que funciona desde 2016 em endereço muito caro à história dos judeus paulistanos: a mais antiga sinagoga paulista, a Kehilat Israel, de 1912. Logo na entrada, há a recriação do frontão típico de um campo de concentração, com a característica expressão alemã Arbeit macht frei, ou seja “o trabalho liberta”. E um detalhe. “O B está de cabeça para baixo, exatamente como o do campo de Auschwitz (na Polônia)”, pontua Faingold.

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No nível inferior de um piso de vidro, logo na entrada, um homem maltrapilho está deitado com um ralo prato de comida. O visitante precisa passar por cima. Na sequência, é possível ver, em reproduções idênticas ao original, cartazes da campanha nazista de segregação.

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Então vem o hall em que foi recriada a fachada de uma típica loja de comerciantes judeus na Alemanha dos anos 1930. Tudo pichado com insultos. Do outro lado da cenográfica rua, há uma pilha de livros na fogueira. “Queimavam qualquer livro que tivesse ligação com judeus. Obras de Freud, Einstein, Brecht…”, enumera o historiador.

O percurso ainda tem a réplica de uma ponta de locomotiva utilizada para transportar judeus a campos de concentração e a recriação de um alojamento, onde adultos e crianças eram amontoados. “Montar este museu era mais que uma obrigação para nós”, acredita o rabino Toive Weitman, diretor da instituição. “Queremos provocar a reflexão. Que todos saiam conscientes da importância de respeitar as diferenças.”

O espaço dedicado à memória do Holocausto foi planejado e construído nos últimos dez meses graças ao patrocínio de empresas e famílias de sobreviventes do genocídio nazista. Nem os valores nem os nomes dos doadores são divulgados.

Ao fim do percurso, o visitante nota um rosto familiar. A estudante alemã Anne Frank, cujo diário se tornou best-seller póstumo, uma das mais conhecidas vítimas do regime de Adolf Hitler (1889-1945). Em letras garrafais, há uma frase retirada de anotações: “Apesar de tudo, ainda acredito na bondade humana”.

Testemunhos

Com a inauguração do memorial, a historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, professora da Universidade de São Paulo (USP), pretende presentear a instituição com os dois primeiros volumes da coleção que ela vem preparando com os testemunhos dos sobreviventes do Holocausto que vieram para o Brasil. Seu projeto, o Arquivo Virtual Arqshoah, já coletou depoimentos de 300 sobreviventes. “Ainda faltam outros 100, mas precisamos de patrocínio para prosseguir em 2018. Se não conseguirmos, o projeto será uma memória interrompida.”

Maria Luiza pretende lançar, em um futuro próximo, dez volumes com todo o material. “Será a maior enciclopédia do mundo com relatos de sobreviventes.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.