O Hospital Beneficência Portuguesa de Santos, um dos mais importantes do litoral paulista, é investigado sob a suspeita de ter simulado tratamentos de radioterapia oferecidos a pacientes com câncer. O Ministério Público Estadual (MPE) apurou que pelo menos sete doentes passaram pelo chamado acelerador linear – dispositivo que emite feixes de radiação sobre a área afetada – em um período em que o aparelho estava quebrado.

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Em depoimento, uma técnica do setor de radioterapia confirmou a prática e disse que as ordens para ludibriar pacientes teriam partido de um dos médicos da Unirad, responsável pela unidade de radioterapia do local desde 1986. A funcionária Renata Cardoso Caldeira entregou ao Ministério Público (MP) uma relação com o nome de sete pacientes que, sem saber, teriam sido submetidos ao tratamento simulado. O hospital diz que rescindiu o contrato com a Unirad.

As denúncias feitas por Renata foram confirmadas por mais dois funcionários do Beneficência Portuguesa. A técnica em radioterapia Cristiane da Silva disse que também teria recebido ordens de Cagnacci para colocar os pacientes na máquina desativada. O médico radioterapeuta Joaquim Gomes de Pinho, um dos donos da Unirad, ratificou as acusações feitas contra seu sócio.

“O médico tem o dever jurídico de ministrar todos os meios necessários para tentar restabelecer a saúde do paciente, não podendo deixar de tratá-los porque, em tese, estariam em estado terminal”, afirmou o promotor Cássio Conserino, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). O MP vai acionar o Conselho Regional de Medicina (CRM) para que tome as medidas cabíveis na esfera administrativa. Os envolvidos podem ser enquadrados nos crimes de estelionato, infrações sanitárias, crime contra as relações de consumo e formação de quadrilha.

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Defesa

O Hospital Beneficência Portuguesa de Santos rescindiu o contrato de arrendamento com a Unirad – Unidade de Radioterapia e Megavoltagem de Santos. A partir de agora, o setor de radioterapia será administrado pelo próprio hospital, como era feito até 1986. A unidade está fechada desde julho, quando surgiram as primeiras denúncias de que um dos equipamentos de radioterapia funcionava com a bomba de cobalto (fonte de radiação) vencida havia dois anos.

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A direção do hospital abriu sindicância para apurar os indícios de irregularidades no atendimento aos pacientes e se comprometeu a repassar ao MP as informações coletadas. “Estamos estarrecidos com o que aconteceu”, disse o diretor técnico do hospital, Mário Cardoso. “Temos compromisso com a verdade e com nossos pacientes. Tomaremos providências com relação às condutas do dr. Hilário.” Procurado por dois dias, o médico Hilário Romanezi Cagnacci não respondeu as ligações até as 20 horas de ontem.