A combinação de um vírus geneticamente modificado e um quimioterápico se mostrou eficaz, em camundongos, no combate ao câncer de próstata. Após quatro anos de estudo, pesquisadores do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) constataram ainda que a associação deixava as células tumorais mais sensíveis ao tratamento, reduzindo a quantidade de medicamento necessária para tratar a doença, o que diminuiu os efeitos colaterais.
A pesquisa utilizou um vírus da família do adenovírus e o gene p53, presente nos camundongos e nos seres humanos, que tem a função de atuar no combate às células que ameaçam o organismo. Os resultados positivos ocorreram quando a combinação foi utilizada com a droga cabazitaxel, quimioterápico que costuma ser usado em pacientes com a doença.
“Nesse estudo, o que fizemos foi usar um vírus modificado e colocamos esse gene, que funciona como um supressor do tumor. Ele funciona basicamente coordenando a morte de células que estão passando por algum tipo de estresse e, normalmente, nos protege contra a formação de tumores. Nosso trabalho foi mostrar como a terapia gênica ia funcionar em coordenação com a quimioterapia tipicamente utilizada no câncer de próstata. A combinação resultou com o fim do câncer de próstata, quando em camundongos”, explica Bryan Eric Strauss, diretor do Laboratório de Vetores Virais no Centro de Investigação Translacional em Oncologia (CTO) do Icesp.
O pesquisador diz que, em 48 horas, já era possível observar a morte das células tumorais. “Observamos por 90 dias e o tumor não cresceu.” A escolha do adenovírus, que costuma afetar principalmente as vias respiratórias superiores, não foi por acaso. “O adenovírus tem facilidade de entrar em nossas células, mas foi modificado geneticamente. Não é mais o que causa sintomas de gripe, mas que faz uma função que traz benefícios. Ele é um meio para levar o gene modificado para as células.”
Com a técnica, a eliminação do tumor, segundo Strauss, ocorreu com uma utilização menor de quimioterápico, algo que contribuiu para a redução dos efeitos colaterais do tratamento, como a redução dos glóbulos brancos, que afeta a imunidade do paciente. O câncer de próstata, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), é o segundo tipo de câncer que mais afeta os homens, com estimativa de 68.220 novos casos por ano.
Próximas etapas
No trabalho, as doses foram aplicadas diretamente nas células tumorais por meio de um procedimento minimamente invasivo. O estudo pretende, em suas próximas fases, desenvolver métodos para que a terapia não só atinja o câncer de próstata, mas evite metástases.
“Não estamos satisfeitos em só matar células, não queremos novos tumores. Mesmo que essa abordagem pareça que está funcionamento bem, falta envolver o sistema imune, porque o vírus vai matar apenas as células que receberam o tratamento. Alguma pode escapar e fazer um novo tumor. Para realmente controlar o tumor, a nossa proposta é desenvolver a resposta imunológica (do organismo).
Os pesquisadores também pretendem, no futuro, testar o método em seres humanos. “Precisamos realizar todos os testes clínicos, ver a toxicidade, os benefícios, os possíveis problemas e elaborar um portfólio para mostrar que a abordagem é eficaz para, então, propor um protocolo para humanos.”
A pesquisa, que foi publicada na revista científica Gene Therapy, recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).