Em alerta, polícia de São Paulo espera reação do PCC

Foto: Valquir Aureliano/O Estado

Parentes dos mortos em frente ao IML: risco de vingança.

Os comandos das polícias Civil e Militar reforçaram ontem o alerta total nas unidades policiais da capital e do interior do Estado de São Paulo para prevenir uma possível reação do crime organizado à morte de 13 supostos integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), na segunda-feira. A Polícia Civil surpreendeu um grupo de criminosos que teria sido incumbido de matar agentes penitenciários na Grande São Paulo; na ação morreram 10 suspeitos em São Bernardo do Campo e três em Diadema, na Grande São Paulo.

Os policiais foram alertados para o risco de retaliação, com novos ataques a unidades policiais, como as que ocorreram em maio. A recomendação reforça os cuidados com a segurança individual, como o porte de armas e munição, coletes à prova de bala e de outros equipamentos de proteção.

Os comandos também pedem que seja evitado o uso de celular para comunicação estratégica, pois os bandidos estariam usando a mesma arma da polícia – a interceptação de conversas telefônicas – para programar ações. Nas bases operacionais, a orientação é para que a segurança seja feita de forma pouco ostensiva para não alarmar a população. ?Interdição de acessos, como houve naquele período, só em último caso?, disse um oficial da PM que pediu para não ser identificado.

Segundo ele, apesar da operação na Grande São Paulo ter sido feita pela Polícia Civil, os policiais militares também seriam alvos de uma possível vingança. ?Se houver, nossos homens estarão preparados?, disse. Na série de ataques de maio, segundo ele, a polícia foi surpreendida, pois jamais havia sido enfrentada daquela forma. O oficial revelou que os comandos têm estimulado os policiais a não deixarem de usar a farda no trajeto para casa ou a caminho do trabalho, apesar de eventual risco. Seria uma forma de mostrar destemor e ganhar a confiança da população.

As novas ordens incluíram um reforço no patrulhamento noturno, principalmente nas imediações de presídios. A Polícia Civil foi incumbida de monitorar autores de homicídios eventualmente em liberdade, pois muitos estariam em dívida com o PCC. Pelas normas da organização, o ?filiado? que pratica crimes sem ser autorizado fica em dívida com a facção. No caso de homicídio, a dívida é de R$ 200 mil. A forma de pagamento mais usual é cumprir uma ?missão?, que pode ser um ataque à polícia.

Segundo o oficial, outra ordem diz respeito às denúncias que chegam da população. ?É para verificar tudo, com cuidado para não cair em armadilhas.? Na segunda-feira à tarde, por exemplo, uma base da PM de Osasco, na Grande São Paulo, recebeu a informação sobre a movimentação de cargas num depósito em área comercial. ?Parecia algo improvável, pois era horário comercial e os veículos estavam na rua?, contou o policial. Na abordagem, a polícia descobriu que as cargas de pneus e açúcar de três caminhões eram roubadas e seis pessoas foram presas.

Uso da Força Nacional é descartada

São Paulo (AE) – O secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, disse não ser necessário o envio de tropas de outros estados para São Paulo – conhecida como Força Nacional -, apesar da possibilidade de novos ataques do PCC. ?São Paulo tem o maior efetivo de polícias do País. Polícias preparadas e com capacidade. Acho que não justifica mobilizar policiais de outros estados?, afirmou.

No mês passado, quando ocorreram ataques a policiais, Corrêa ofereceu os homens da Força Nacional de Segurança ao governador Cláudio Lembo. Mas negou que tenha alterado sua posição. ?É obrigação de qualquer parceiro oferecer, desde que a outra parte queira, senão vira intervenção. Oferecemos e São Paulo não quis. E acho que eles já têm homens suficientes e preparados.? Corrêa elogiou o governo paulista pela operação de segunda-feira, quando 13 suspeitos de envolvimento com o PCC foram mortos pela polícia. ?O Estado de São Paulo tem dado resposta. O último episódio mostrou capacidade de antecipação e essa é a solução. Não sei detalhes dessa operação, mas já demonstrou antecipação?.

A importância das ações de inteligência foi destacada pelo secretário. ?A resposta passa pela rede de inteligência montada?, disse. ?Hoje, é preciso boa agilidade e troca de informações. Isso é muito mais importante do que ter efetivo.?

MPE decide investigar as 13 mortes

São Paulo (AE) – O Ministério Público Estadual (MPE) vai investigar as 13 mortes ocorridas segunda-feira em confronto com a Polícia Civil, em São Bernardo do Campo. Os procedimentos de apuração devem ser os mesmos adotados nas outras 123 mortes de civis em confronto com a polícia e que ocorreram no período de 12 a 20 de maio, em que a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) realizou uma onda de ataques à polícia. Boletins de ocorrência (BOs), laudos necroscópicos e abertura de inquéritos devem ser alguns dos documentos requisitados nos próximos dias.

Segundo o MPE, a investigação caberá aos promotores criminais de Diadema e São Bernardo do Campo. As outras mortes são de competência do Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial (Gecep), que ainda não se pronunciou sobre o andamento das investigações. A comissão especial do Conselho Estadual de Defesa do Direito da Pessoa Humana (Condepe) também deve incluir os casos na lista de mortes a serem investigadas. Segunda-feira, a comissão não teve tempo de se reunir para definir as providências que tomará neste caso, mas pelo menos dois membros receberam informações de possíveis excessos na ação policial. ?Falam de execuções, com tiros de cima para baixo?, contou o membro da Comissão de Direitos Humanos da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Lúcio França. O coordenador do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, Ariel de Castro Alves, também estranhou o grande número de mortes em uma única ação. ?Isso mostra a ineficiência da polícia, que ao invés de prender, mata.?

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