Obras emergenciais, descontos na tarifa, queda de consumo, campanhas publicitárias, tratamento de água, bombardeio de nuvens e até pagamento de horas extras a funcionários. Após mais de um ano de medidas para tentar evitar o colapso do abastecimento na região metropolitana, o impacto da crise hídrica nas contas da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) já ultrapassa R$ 1 bilhão.

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O levantamento do Estado considera custos adicionais de serviços atribuídos à crise pela Sabesp em seu balanço financeiro divulgado na quinta-feira, como gasto com óleo diesel, e uma série de contratos para execução de obras emergenciais, como a captação inédita do volume morto do Sistema Cantareira. Procurada pela reportagem, a assessoria da companhia reiterou que todas as ações anticrise foram necessárias.

Muitas dessas provocaram um efeito cascata nas finanças da estatal. Em 2014, por exemplo, a Sabesp divulgou ter gastado R$ 58,7 milhões com publicidade “por causa da intensificação da campanha para uso racional da água”. Algumas peças publicitárias, como as estreladas pelo apresentador Rodrigo Faro em fevereiro de 2014, foram feitas para divulgar o programa de bônus lançado pela companhia para estimular a economia de água pela população.

Somente o plano que dá descontos de até 30% na conta para quem reduzir o consumo resultou em uma perda de arrecadação da ordem de R$ 376,4 milhões. Por outro lado, a adesão das pessoas ao programa, que chegou a 78% dos clientes da Grande São Paulo em dezembro, contribuiu para a redução de 3,1% no volume faturado pela empresa com água na região em relação a 2013. Ao todo, a receita operacional caiu R$ 634,6 milhões em 2014, 6,7% a menos do que no ano anterior.

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“A extensão da seca e as medidas adotadas provocaram uma redução gradativa do volume faturado de água e, portanto, uma redução da receita”, afirma a companhia em seu balanço, que apontou queda de 53%, ou R$ 1 bilhão, no lucro em 2014. “A Sabesp não pode garantir que, ao final do programa de bônus, o referido consumo retornará aos níveis anteriores à atual crise de água. Um menor consumo per capita pode afetar negativamente nossos negócios e o resultado das operações no futuro”, completa.

Mais da metade da queda do volume de água produzido, 56% no Cantareira e 30% na região metropolitana, deve-se, porém, às manobras de redução da pressão da água e fechamento da rede durante parte do dia, o que provoca longos cortes no abastecimento. Segundo a Sabesp, essas ações, que envolveram a instalação de mais de 60 novas válvulas, elevaram a R$ 19,7 milhões os gastos com o Programa Corporativo de Redução de Perdas de Água.

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Em seu balanço, a companhia destaca ainda o pagamento de R$ 14,6 milhões em despesas com horas extras a funcionários, fruto da “gestão e intensificação na manutenção de sistemas de água”. Segundo um dirigente da Sabesp, em 40% da rede de abastecimento da Grande São Paulo, as manobras são feitas manualmente por técnicos nas ruas. Em muitos bairros, a reabertura das válvulas ocorre durante a madrugada.

Obras

Em outra frente, a Sabesp investiu pesado em uma série de obras emergenciais para evitar o colapso do abastecimento na Grande São Paulo, onde vivem mais de 20 milhões de pessoas. Só na ampliação de adutoras, estações elevatórias e de tratamento para transferir água dos Sistemas Alto Tietê e Guarapiranga para bairros atendidos pelo Cantareira, a companhia gastou cerca de R$ 80 milhões ainda no primeiro semestre do ano passado.

As ações reduziram a abrangência do manancial em crise, que caiu gradativamente de 8,8 milhões de pessoas para os atuais 5,6 milhões, mas não evitaram o esgotamento do volume útil do Cantareira, que fica acima do nível dos túneis de captação, em julho. Para não adotar o rodízio oficial de água, a estatal fez, a toque de caixa, obras para captar, pela primeira vez na história do sistema, o volume morto das represas, que fica abaixo dos túneis.

Só com as intervenções para retirar os 182,5 bilhões de litros da primeira cota da reserva profunda, a partir de maio do ano passado, a Sabesp também gastou R$ 80 milhões com 17 bombas flutuantes, transformadores, tubulações, além das obras civis. Com o agravamento da crise nos meses de estiagem, esse volume se esgotou em outubro. Antes que isso acontecesse, a estatal já iniciou novas obras para usar uma segunda reserva, de 105 bilhões de litros.

Segundo levantamento do Estado, os novos contratos envolvendo a captação da segunda cota somam ao menos R$ 45 milhões, incluindo a compra de mais 19 bombas flutuantes. Para que toda estrutura funcionasse no meio das represas, a Sabesp teve de instalar geradores de energia movidos a óleo diesel. Só com o combustível a estatal gastou R$ 6,5 milhões.

Situação crítica

Mesmo com o retorno das chuvas acima da média em fevereiro e março, a situação atual do Cantareira é bem mais crítica hoje. O manancial tem 57% menos água disponível do que há um ano. Para atravessar o novo período seco, a Sabesp aposta em novas obras emergenciais, como a ligação da Billings com o Sistema Alto Tietê, orçada em R$ 130 milhões, a captação de água no Rio Juquiá (R$ 75 milhões) e a ampliação do Guarapiranga, com contrato de R$ 41,6 milhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.