‘Ele morreu salvando vidas’, diz amigo de sambista morto em chacina

Cerca de 200 pessoas estiveram na manhã desta segunda-feira, 20, no velório de Mydras Schmidt Rizzo, de 38 anos, um dos assassinados na chacina do Pavilhão 9, torcida organizada do Corinthians. O velório aconteceu no Cemitério Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. O corpo será enterrado no Cemitério Santo Antônio, em Osasco. Compositor de sambas-enredo da Pérola Negra, Schmidt era casado e pai de dois filhos, Camyla, de 1 ano e 3 meses, e Ayrton, de 4.

Segundo o amigo de infância e também torcedor do Pavilhão 9, Jean Carvalho, de 38 anos, sobreviventes relataram que, ao perceber a ação dos criminosos, Schmidt teria corrido para abrir o portão principal, embaixo da Ponte dos Remédios. “Ele que abriu o portão para os outros correrem. Morreu salvando vidas. Pensou primeiro em salvar os outros antes de pensar na própria vida”, disse.

A esposa da vítima, Lana Batista, de 24 anos, esteve com amigos do Pavilhão 9 e confirmou a versão dos sobreviventes. “Quando ele tentou abrir o cadeado, acabou sendo baleado. Mesmo assim, abriu o portão e alguns ainda conseguiram fugir”, afirmou. “A última frase que ele falou no posto de combustível foi: ‘Cara, me socorre. Tenho dois filhos para criar e minha mulher está me esperando. Me socorre'”, disse Lana, que era casada com Schmidt há oito anos.

Um dos momentos mais comoventes do velório desta manhã ocorreu quando Lana voltou à sala, depois de ir na sua casa, na Liberdade, com objetos para deixar no caixão. O cavaquinho, uma camiseta do Corinthians, um troféu que recebeu como sambista e dois ursinhos de pelúcia, um de cada filho. Enquanto retirava os objetos de uma bolsa, dizia: “Trouxe o seu cavaco para você tocar amanhã. Essa camiseta, que você amava. Trouxe o ursinho do Ayrton, o ursinho da Camylinha, que ela gostava. Obrigada pelo pai que você foi. Você está no meu coração. Você foi guerreiro. Não sei o que vai ser de mim sem você”.

Sobre o caixão, estavam ainda as bandeiras da Pérola Negra e do Corinthians. Compareceram ao velório amigos, familiares, torcedores e sambistas, que rezaram a oração do Pai Nosso, puxaram aplausos, cantaram canções escritas por Schmidt e hinos do time de futebol.

Tráfico de drogas

Amigos e familiares estavam revoltados com a possível ligação entre as vítimas e o tráfico de drogas. Embora alguns mortos tivessem passagem pela polícia por acusação de tráfico, familiares e amigos dizem que Schmidt nunca se envolveu com drogas.

“Era samba, Corinthians, família, amigos e pavilhão 9. Ele era louco pelo Pavilhão. Não era traficante, era sambista”, disse a amiga de samba e de time, Francisca Gomes, de 58 anos. Mãe de um torcedor do Pavilhão 9 que era amigo de Schmidt, Regina Casitas, de 58 anos, também nega o envolvimento da vítima com o tráfico. “Ele trabalhava. Não era traficante. Não se envolvia com droga. Era um menino bom e tinha dois filhos pequenininhos. Por que iria se envolver com tráfico?”, disse Regina.

O caso

Oito integrantes da Pavilhão 9, torcida organizada do Corinthians, foram mortos a tiros na noite deste sábado, 18, na sede da agremiação, na zona oeste de São Paulo. A chacina aconteceu na véspera do clássico contra o Palmeiras, mas, por enquanto, os policiais descartam a hipótese de rixa entre torcidas. Uma das principais linhas de investigação é de que o crime estaria ligado ao tráfico de drogas.

O compositor de sambas-enredo foi o oitavo alvejado. Ele ainda conseguiu correr para um posto de gasolina, a poucos metros da sede, onde caiu. Schmidt chegou a ser socorrido para o Hospital das Clínicas, mas não resistiu aos ferimentos e morreu horas depois.

As outras vítimas foram: Marco Antônio Corassa Júnior, de 19 anos; Jonathan Rodrigues Nascimento, de 21; Jonathan Garzillo Massa, de 21; André Luiz Oliveira, de 29; Matheus Oliveira, de 29, e Ricardo Prado, de 34. Dos mortos, ao menos dois já haviam sido acusados de tráfico de drogas e um terceiro por roubo. Outras duas chegaram a ser detidas por envolvimento em briga entre torcidas organizadas.

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