Comentário

Eduardo K. comenta o clima em Recife após a morte de Campos

Não são necessários nomes, nem idades, nem cargos, profissões ou religião. Nem cor, credo ou classe social. Em cada fala, cada olhar, cada silêncio o pesar pela morte de Eduardo Campos rouba a cena, se sobressai a qualquer conversa fiada e domina qualquer encontro (ou desencontro) pelas ruas da velha Recife. Os últimos dias não tem sido fácil para quem nasceu, mora ou escolheu a capital pernambucana para viver. Restrinjo minhas impressões sobre a cidade, pois nela aportei.

A maioria dos brasileiros ficou chocada coma trágica morte do presidenciável Eduardo Campo, do PSB, na última semana. Mesmo que não conhecia profundamente a história política do jovem de 49 anos (como eu) ficou sensibilizado. Pai de família (cinco filhos), bom marido (dizem) e político de futuro (parecia). É claro que o senso comum conduz qualquer personalidade morta dessa maneira a um pedestal que as vezes não lhe pertence, mas caminhando por Recife é fácil perceber que Campos tinha, sim, seu lugar no coração dos recifenses.

Ao chegar à Veneza brasileira no final da tarde deste sábado o assunto foi tema da primeira conversa com o taxista. No rádio as notícias davam conta dos últimos detalhes do embarque dos restos mortais de Campos de São Paulo para Recife. “Merecia vir em um avião melhor, não nesses Hércules do tempo do guaraná com rolha”, me disse o senhor, anônimo como tantos, do alto de seus cinquenta e poucos anos. “Assim vai demorar uma década pra chegar”, completou.

Ao chegar no hotel encontrei Severino Araújo, presidente estadual do PSB, e toda uma comitiva de lideranças do Paraná. Araújo estava consternado. Era amigo pessoal de Campos. Parecia não acreditar no ocorrido. “Estávamos juntos esses dias. Ele estava coma gente”, repetia diversas vezes para possivelmente companheiros de partido. Minha memória para feições políticas já não é tão boa como a dos feitos políticos.

Ao partir para o jantar, Campos voltou ao tema com o próximo taxista. Com pontos de vista peculiares sobre política, lamentou que “mais uma vez morre um dos bons, enquanto tantos outros vagabundos continuam por aí”. Disse que Campos ajudou Marina a melhorar, a ter menos rejeição. “Agora ela, que esses dias era escorraçada por não conseguir ter o seu partido, virou a queridinha de todos. Até da dona Dilma”, falou. Falou do rouba, mas faz, criticou o coronelismo de muitos políticos e lamentou que “um cara tão bom para Pernambuco não vai poder mais tentar ajudar o país”.

Na volta para o hotel o terceiro taxista do dia disse que “nosso amigo já deve ter chego”. E, de fato, o avião havia acabado de pousar no Aeroporto de Guararapes. – Vai passar lá amanhã? Perguntei. “Amanhã estou de folga, mas vou tentar dar uma chegadinha lá”, disse o profissional do volante. Pelo que vi até aqui, Recife inteira vai “tentar dar uma chegadinha” no velório de Campos para um último adeus.

Invejei os pernambucanos. Queria sentir algo tão profundo assim (que não raiva) dos políticos do meu Paraná. Quem sabe um dia.

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