É possível afirmar que fazer arte do lixo é a maneira mais intensa de aderir ao conceito da reciclagem. “Nosso trabalho é visceral”, concordam, quase em uníssono, os artistas plásticos paulistanos Rodrigo Machado, de 36 anos, e Pado, como é conhecido Cleber Padovani, de 27. Desde o início do ano, eles vêm espalhando pela cidade curiosas esculturas construídas com tranqueiras encontradas pelas ruas. “É o nosso tapão na orelha da sociedade”, explica Rodrigo, ensaiando um discurso ecologicamente correto.

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No processo de criação da dupla tudo acontece meio que por acaso. “Nos encontramos no domingo, geralmente pela manhã, e damos um rolê de carro por algum bairro, até acharmos um local interessante”, conta Rodrigo. “Pelo caminho, a gente enche o Uno de lixo.” Apanhado nas ruas, obviamente. Na última criação, domingo retrasado, quando fizeram uma árvore batizada de Pé de Lixo em plena Avenida Paulo VI – prolongamento da Sumaré, na zona oeste da capital -, levaram cerca de três horas apenas para recolher o material pelas redondezas. “Gastamos mais umas seis horas montando a escultura”, dizem.

Foi a sétima vez que essa rotina se repetiu. Rodrigo e Pado fizeram Sala de Escritório, O Portal, Totem, Esfinge, O Carro, A Girafa e Pé de Lixo, em bairros como Pinheiros, Pompeia, Lapa e Vila Mariana. Segundo estimativa dos artistas, 80% da matéria-prima utilizada vem das ruas. O resto, também lixo, é trazido por eles. “Até os pregos são reaproveitados”, garante Rodrigo.

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