O governo do presidente Eduardo Duhalde ficou exultante com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Utilizando termos inéditos na Argentina para referir-se a uma eleição presidencial em outro país, o chefe do gabinete de ministros, Alfredo Atanasof, declarou que o governo argentino estava “verdadeiramente contente com esta escolha do povo brasileiro”.
Segundo Atanasof, “a vitória de Lula abre uma perspectiva de que nossos povos se unam mais ainda, além de nossos interesses comuns”. Segundo ele, Lula sustentou que o Mercosul “possui um potencial que ainda não foi totalmente desenvolvido”.
O chanceler Carlos Ruckauf voltou a confirmar, hoje, o convite feito ao presidente eleito, para que sua primeira visita ao exterior seja a Buenos Aires. A idéia é que Lula desembarque na capital argentina na segunda quinzena de novembro. Ruckauf diz esperar que o governo Lula provoque uma “maior aproximação” com o Brasil. Quando governador da Província de Buenos Aires, entre 1999 e 2001, Ruckauf foi um áspero crítico do Brasil, e em diversas ocasiões acusou os Estados brasileiros de agirem como “corsários” que queriam “roubar” as empresas argentinas, para levá-las para o outro lado da fronteira.
“Irmão”
Duhalde, conhecido popularmente como “El Cabezón” (O Cabeção), espera que o presidente eleito brasileiro ajude a Argentina a sair da profunda crise em que está mergulhada. Na Casa Rosada, sede do governo, existe expectativa de que o Brasil, sob a administração Lula, possa agir como um “irmão mais velho” que ajudaria a Argentina em seus confrontos com países como os EUA e com os organismos financeiros internacionais.
Alguns analistas consideram que a vitória do PT em um país das dimensões do Brasil acabará tendo uma influência decisiva nos resultados eleitorais nos países vizinhos, como o caso da Argentina, que escolherá o novo presidente em março.
Por este motivo, para diversos setores da direita argentina a eleição de Lula tem o efeito de uma espinha de peixe na garganta. É o caso do ex-presidente Carlos Menem, pré-candidato presidencial pelo Partido Justicialista (Peronista). Visivelmente indisposto com a vitória do petista, Menem afirmou que não concordava com as posições duras de Lula em relação às negociações sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca).
Sobre a visita que Lula a Buenos Aires, Menem esquivou responder seretendia vê-lo. “Tudo depende do senhor Lula se ele quiser vir e dialogar comigo, não tenho inconvenientes”, disse em tom indiferente. Os jornais argentinos dedicaram amplo espaço à cobertura da vitória de Lula e suas implicações para a Argentina.
Jornais
O principal jornal do país, o Clarín, foi breve em sua definição na capa: “Lula arrasou”. O La Nación, mais tradicional, diz que o Brasil deu “um histórica guinada à esquerda” e daqui para a frente Lula terá que “conciliar grandes promessas e a realidade”. Dentro, dedica sete páginas às eleições brasileiras, dizendo que esta eleição marcou “o fim de um ciclo de ideologias neo-liberais”.
O jornal Página 12 colocou como título “Um pobre é presidente de um país de pobres”. O jornal destacou os problemas sociais do Brasil, “um gigante onde 33 milhões de pessoas não têm comida”. Para o sóbrio jornal econômico El Cronista, “Lula venceu e agora se submete ao voto dos mercados”.