Protegido por um habeas-corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que permitia que ficasse calado, o publicitário Duda Mendonça não respondeu a nenhuma das perguntas feitas ontem nos dois depoimentos que prestou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios: um público e outro reservado.
O publicitário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve-se em silêncio (apenas reiterando que nada falaria) durante quatro horas, sob o argumento de que só se "ferrou" desde que foi espontaneamente à comissão, em agosto, e admitiu ter recebido R$ 10,5 milhões de dinheiro de caixa dois do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
"Minha postura hoje será diferente de sete meses atrás, quando desobedeci a meus advogados, vim aqui e falei a verdade. Me dei mal. Tenho sido vítima de uma campanha difamatória em todos os níveis. Agora meus advogados me convenceram a não falar e vou cumprir isso rigorosamente", avisou Duda.
No depoimento reservado, que durou cerca de uma hora e foi restrito a quatro parlamentares da CPI que tiveram acesso a documentos enviados pelos EUA com a quebra do sigilo bancário do publicitário no exterior, Duda também ficou calado. Ao deixar o Congresso, afirmou: "Estou sendo vítima de perseguição política."
Tanto no depoimento público, que durou três horas e meia quanto no reservado, ele alegou que estava seguindo uma estratégia traçada por seus advogados – Thales Castelo Branco e Frederico Figueiredo. "Como sou publicitário e não advogado, não sei qual pergunta pode prejudicar a minha defesa e, por isso, não vou responder a nenhuma", argumentou.
Duda se recusou a responder, inclusive, quantos filhos tem, quais seus nomes e como se chama sua mulher. Abriu uma exceção apenas para responder a pergunta do deputado Carlos Willian (PTC-MG) sobre se acreditava em Deus. "Sim. Tenho certeza de que serei absolvido pela justiça dos homens. Pela justiça divina, Deus nunca me condenou." Os deputados e senadores da CPI usaram várias estratégias para tentar convencer o publicitário a falar.
"Como diria o Chacrinha, quem não se comunica, se estrumbica. E o senhor, como marqueteiro, deve estar percebendo que sua imagem está arranhada", apelou o relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). O relator confirmou que pretende pedir o indiciamento de Duda por evasão de divisas.