Dossiê coloca PF e CPMI em rota de colisão

A uma semana da eleição, o nervosismo da campanha contamina os bastidores da investigação sobre a origem do R$ 1,75 milhão que seria usado por petistas para comprar o dossiê Vedoin contra tucanos. O deputado Raul Jungmann (PPS-PE), vice-presidente da CPMI dos Sanguessugas, quer entrar com mandado de segurança contra a Polícia Federal, alegando obstrução dos trabalhos da comissão parlamentar de inquérito. Jungmann disse que a CPMI ainda não teve acesso a ?nenhuma folha? do relatório parcial do inquérito preparado pela PF sobre a trama envolvendo a tentativa de compra do dossiê.

Reclamou, ainda, que o documento vazou para a imprensa sem que os integrantes da comissão tivessem conhecimento da papelada. ?A pergunta que não quer calar é: a quem interessa que essa CPI não chegue aos mandantes do crime, aos responsáveis??, indagou o deputado. ?Estamos diante de uma situação absurda, de um caso de obstrução das investigações.?

O vice-presidente da CPMI estranhou o comportamento do juiz Jefferson Scheinneder -responsável pelo inquérito sobre o dossiê – , que não repassou o relatório preliminar à comissão. Mas culpou mesmo a PF por não enviar diretamente as informações. Disse que o vazamento foi ?seletivo?, omitindo trechos importantes da apuração, como transcrições de conversas telefônicas e cruzamento dos dados obtidos com quebra de sigilo bancário.

Apoiador do candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, Jungmann negou que sua sugestão de entrar com mandado de segurança contra a PF tenha ligação com a campanha eleitoral. ?Aqui não há preocupação se o culpado é A ou B. Acho que é interesse de todos, do presidente Lula e do candidato Alckmin, que tudo seja esclarecido antes do segundo turno, para que não pairem dúvidas?, comentou. O deputado admitiu, porém, que há ?desdobramento e implicação política em relação a todos esses fatos?.

O diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, disse não ver motivo para a queixa de Jungmann. ?Não vou polemizar com o deputado para não entrar nesse jogo de campanha eleitoral?, reagiu. ?Ele, melhor do que ninguém, sabe perfeitamente que a CPMI dos Sanguessugas tem tido acesso a todas as investigações. A atuação da PF é de Estado, republicana e transparente.?

Juiz restringe dados

O juiz Jefferson Scheinneder determinou aos delegados Diógenes Curado e Luiz Flávio Zampronha que evitem vazamentos de informações capazes de prejudicar a investigação ou que firam os direitos de pessoas investigadas. O juiz advertiu que os dois estão sujeitos a ser punidos por quebra do sigilo funcional. A partir de agora, os membros da CPMI terão de ir a Cuiabá e requerer ao juiz dados do inquérito.

?Laranjas? são de uma família pobre

Brasília (AE) – A Polícia Federal já apurou que entre cinco e nove ?laranjas? de uma mesma família, residente da Baixada Fluminense, estão envolvidos no caso do dossiê Vedoin. Sabe também que eles são pobres e não tinham meios para realizar uma operação tão ambiciosa. Precisa agora descobrir se eles ?alugaram? seus CPFs ou tiveram seus nomes usados indevidamente pelos petistas, e se os donos da empresa tinham conhecimento da operação.

Ontem, a PF adiou a busca que faria na empresa Vicatur Câmbio e Turismo, de Nova Iguaçu, no Rio, de onde teria saído a maior parte dos US$ 248,8 mil destinados à compra do dossiê Vedoin. O adiamento se deu por causa do vazamento do nome da empresa e por razões operacionais, segundo informou a PF. O objetivo da operação, que agora não tem data para ser realizada, é obter a contabilidade paralela da empresa e desmantelar o ?laranjal? que ela teria montado com clientes de fachada, desde 2003, para fins de lavagem de dinheiro. A investigação policial descobriu que o grupo de petistas se serviu desse esquema para limpar parte do dinheiro, provavelmente de origem ilícita, que usaria na compra do dossiê.

 

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