O governador João Doria (PSDB) vai criar uma comissão externa, formada por membros da sociedade civil, para acompanhar a investigação da operação da Polícia Militar que terminou com nove jovens pisoteados e mortos no baile funk em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, no fim de semana. A proposta era uma reivindicação de familiares de vítimas da tragédia e de órgãos de direitos humanos, que foram recebidos por Doria na noite de quarta-feira, 4.
A reunião aconteceu após centenas de pessoas marcharem de Paraisópolis até o Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, em protesto para pedir apuração rápida da tragédia e também punição aos responsáveis. Por enquanto, a versão sobre os fatos são conflitantes. A PM relata que o tumulto começou após dois suspeitos em uma moto atirarem contra policiais e irem se esconder no baile funk. Já os moradores afirmam que foi a própria PM que teria provocado a tragédia ao tentar realizar uma dispersão truculenta no pancadão. Na segunda-feira, 2, a gestão Doria decidiu afastar das ruas seis policiais militares que participaram da ação.
“A comissão externa e independente é a nossa conquista mais importante até o momento”, diz Dimitri Sales, presidente do Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana (Condepe), um dos participantes do encontro. “É uma forma de assegurar que a investigação vai a fundo e não ficará restrita a corporativismos ou nenhuma pressão externa.”
Segundo Sales, a comissão vai poder requerer intimação de testemunhas para ser ouvidas no inquérito e também fazer análise de relatórios produzidos pela investigação policial – o caso é apurado pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil, e pela Corregedoria da PM. Outras prerrogativas serão convidar especialistas para discutir laudos e até mesmo sugerir quesitos que devem ser respondidos nas perícias. “A sociedade passa a ser um sujeito ativo no processo investigatório”, afirma.
De acordo com Sales, a comissão será formada por um representante da família de cada vítima, além de dois líderes comunitários e de representantes do Condepe e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – órgãos que estavam presentes no encontro. O nome dos representantes ainda não foi definido.
A reunião no Palácio dos Bandeirantes durou cerca de duas horas e teve a participação, ainda, de integrantes do governo Doria. Entre os presentes, também estava o secretário da Segurança Pública, o general João Camilo Campos, responsável por chefiar as polícias de São Paulo. “No encontro, o Governador ouviu relatos de duas mães que perderam seus filhos e reiterou o compromisso de rigor e transparência em relação a investigação das mortes ocorridas na madrugada de domingo”, diz nota do governo.
Uma nova reunião foi marcada para a próxima segunda-feira, 9, e a previsão é que representantes de todas as famílias de vítimas participem. Na ocasião, a comunidade também deve apresentar pautas como a “não criminalização do funk” e outras questões de Paraisópolis.
“Fizemos um acordo de melhoria do diálogo com o governo, buscando uma articulação pela paz, e a criação de uma agenda positiva, com programas e projetos que pudessem beneficiar os jovens principalmente na área da cultura”, afirma o líder comunitário Gilson Rodrigues. Entre as reivindicações está a abertura do Parque Paraisópolis, canalização de córrego na comunidade e instalação de unidade de saúde para atender dependentes químicos.