Mandic tem 8 anos e mora com o pai, o advogado Adriano Guimarães Gianelli, de 39. Ainda recém-nascido, foi alvo de uma disputa judicial por sua guarda, depois de a ex-mulher do advogado, a bancária Érika Souza, de 38 anos, entrar na Justiça para ficar com ele. O caso foi parar no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e seria mais uma disputa por guarda entre tantas, não fosse Mandic um cão da raça dachshund, mais conhecida como “salsicha”.

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No dia 18 de março, os ministros do STJ decidiram que Mandic vai ficar com Gianelli. O processo se arrasta desde 2009, quando Érika pediu para ficar com o cão. Ela morreu de câncer no início deste ano, mas, desde a separação, o advogado sempre ficou com o cachorro, que chama de “filho”.

No início do divórcio litigioso, Érika ganhou a causa em primeira instância no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Gianelli reverteu a decisão no Órgão Especial (segunda instância da Justiça paulista), e o caso foi parar em Brasília. “Quando nos separamos, ofereci todas as minhas propriedades para ela em troca do Mandic”, disse o advogado, anteontem, em seu escritório, no Jardim Paulistano, zona sul de São Paulo, acompanhado do cão, que não desgrudava os olhos do dono.

Dois carros zero-quilômetro, uma casa no litoral e um apartamento em Alphaville, em Barueri, na região metropolitana – propriedades avaliadas em R$ 3 milhões – não foram suficientes para Érika abrir mão do cachorro no processo. “Processualmente, abri mão de patrimônios para que a guarda do cachorro ficasse comigo”, contou o advogado.

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Segundo Gianelli, a empatia entre os dois – dono e cachorro – foi instantânea desde o primeiro dia em que o animal surgiu na vida do casal. “A relação que eu construí com o Mandic foi porque um gostou do outro. Eu e ele não somos culpados por termos nos escolhido. É uma relação paternal. A Justiça percebeu que o Mandic é tratado como um ser vivo, não como uma ‘coisa’, e o tribunal teve essa delicadeza.” Para ele, a ex-mulher brigava por Mandic apenas para “atingi-lo”.

O Estado entrou em contato com Dirceu Augusto da Câmara Valle, advogado que representou Érika no processo. A reportagem queria ouvir a versão dele para a disputa de Érika por Mandic. O defensor disse que, “em respeito à morte” dela e também em respeito à família da bancária, não comentaria o caso, já que o processo “também está em segredo de Justiça”.

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Na decisão do ministro do STJ Luis Felipe Salomão, “a agravada (Érika) não deu mostras de possuir interesse em ficar com o animal, evidenciado pela ausência de diligência”. No voto de Salomão, o caso é tratado como uma “guarda”.

Humanização.

O também advogado Antonio Ivo Aidar, de 59 anos, que representou Gianelli no Superior Tribunal de Justiça, explicou que defendeu perante aos ministros “a humanização” de Mandic. “Você perde o relacionamento com outras pessoas e elas fazem dos animais irmãos, ou cuidam como filhos”, disse.

“O amor que ele tinha pelo cachorro, o desespero de perder era algo muito forte. O animal acabou ficando com ele porque foi provado o afeto”, explicou Ivo Aidar.

Segundo o advogado, esse foi um dos casos mais marcantes nas mais de três décadas em que trabalha com Direito da Família em tribunais. O dono também defende a humanização de animais em processos de separação de casais.

Perpetuar a espécie. Pensando no futuro e em “perpetuar a família”, Gianelli avalia se congela o sêmen de Mandic no futuro. Recentemente, o advogado arrumou uma “namorada” para o cão, que resultou no nascimento de mais quatro cachorros. Mussum, Kunta Kinte, Sorte e Chica da Silva também vão ficar sob a guarda do advogado. Os nomes têm referências africanas porque, segundo Gianelli, Mandic é negro.

No escritório de Gianelli, onde o dachshund fica pelo menos uma vez por semana, já foi possível ter ideia da proximidade que ele tem com o cão. Mandic não deixou o dono sozinho em nenhum momento, bebeu água na mesa dele e fez poses para a foto.

Em casa, cão e homem também não se desgrudam. “Ele vê os jogos do Palmeiras comigo, presta atenção e late quando sai gol. Não é, filho?”

Mandic também tem pelo menos 20 peças de roupas para o verão e o inverno. Anteontem, estava de gravata e tinha acabado de sair do banho do pet shop.

Gianelli, que se diz “tabagista”, contou que o cão não gosta do cheiro de cigarro. “Se o Mandic perceber que eu vou colocar a mão no maço de cigarro, ele sai de perto de mim e vai para qualquer lugar.” O advogado também contou que não entra em comércios onde o cachorro não é aceito. “Se ele come comigo na mesa de casa, pode comer em qualquer lugar.” As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.