Luta

Dois anos após acidente da Gol, parentes exigem explicações

O acidente com o vôo 1907 da empresa aérea Gol completa dois anos nesta segunda-feira (29) e os familiares das 154 vítimas que morreram a bordo do Boeing 737/800 cobram esclarecimentos sobre as causas e esperam que os responsáveis pela tragédia sejam punidos. O avião se chocou com um jato executivo pilotado por norte-americanos.

A presidente da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Vôo 1907, Angelita de Marchi, acusou órgãos do Poder Público como o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) de agir com descaso não só em relação ao acidente, mas com todo o setor aéreo.

“Na hora do calor [do momento] fala-se muito, promete-se muito, mas, efetivamente, pouco é feito. Ainda vemos muito descaso”, disse Angelita. Ela também criticou as autoridades do setor aéreo por não atenderem satisfatoriamente associação. “Temos sempre que correr atrás delas e, muitas vezes, ficamos sabendo de algumas coisas pela mídia”, afirmou.

Angelita criticou a demora do Cenipa em concluir o relatório que irá apontar as causas do acidente. “O primeiro prazo para que o documento ficasse pronto era de dez meses. Depois passou para um ano, depois para janeiro deste ano, abril e, por fim, julho, ocasião em que o Ministro da Defesa disse que o levantamento já estava pronto e que seria tornado público em 20 dias. Hoje, a informação que temos é que ainda está no exterior para análise, sem data para conclusão”.

Para Angelita, o inquérito criminal que tramita no Tribunal Regional Federal (TRF) da Vara de Sinop (MT) está andando devagar, mas pelo menos não está parado. Ela se refere decisão do juiz Murilo Mendes que, em março deste ano, autorizou os pilotos do jatoLegacy, que se chocou com o avião da Gol, Joseph Lepore e Jan Paladino a prestarem depoimentos nos Estados Unidos.

“Inicialmente, o juiz havia decidido julgar os pilotos norte-americanos revelia, mas voltou atrás e permitiu que eles respondessem ao inquérito por carta rogatória. Eles responderam s questões e as suas respostas foram transcritas para o inglês e uma cópia enviada para os dois, nos Estados Unidos. Desde então, pelo que sabemos, não houve qualquer retorno dos advogados”.

A Associação não sabe o número de famílias já indenizadas pela Gol, mas Angelita garante que é uma minoria. “Cerca de 120 famílias entraram com ações nos Estados Unidos, mas depois que a Justiça norte-americana rejeitou os processos, devolvendo-os ao Brasil por entender que nosso país tem condições de dar prosseguimento ação, esses parentes têm tentado um acordo justo com a Gol. Só uma minoria já chegou a um consenso”.

Nas ações que moviam nos Estados Unidos as famílias processavam a empresa ExcelAir, proprietária do jato Legacy; a Honeywell, fabricante do transponder equipamento eletrônico de comunicação que emite sinais capazes de identificar um avião e que, se estivesse funcionando, poderia ter impedido a colisão e os dois pilotos norte-americanos.

“Hoje, nossa maior reivindicação é para que haja transparência e clareza em tudo que as autoridades estão fazendo. Que todas elas levem isso muito a sério pois a responsabilidade deles é mostrar aos brasileiros que existe Justiça nesse país, que podemos confiar em quem deve defender o povo. E, claro, que as autoridades trabalhem seriamente para que outros acidentes não aconteçam, o que, infelizmente voltou a ocorrer menos de um ano após a tragédia em perdemos nossos parentes”, diz Angelita, referindo-se ao acidente com o Airbus A320, da TAM, ocorrido no dia 17 de julho de 2007 e no qual morreram 199 pessoas.

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