Cerca de 44,3 mil pacientes internados em todo o País morreram no ano passado em decorrência de doenças infecciosas e parasitárias. Com um aumento de 5% em relação ao ano anterior, elas foram a terceira causa de óbitos nos hospitais brasileiros, atrás apenas das doenças dos aparelhos circulatório e respiratório. Os dados do Sistema Único de Saúde (SUS), tabulados pela reportagem, revelam que enfermidades como hepatite e infecção generalizada (septicemia) ainda continuam sendo apontadas entre as causas de morte ou ajudaram a aumentar a letalidade de doenças oportunistas decorrentes de problemas, como a baixa imunidade.
Em comparação aos índices do século passado – quando as enfermidades causadas por parasitas e infecções respondiam por até 50% das mortes -, a evolução é clara. Isso porque, no total da população, esse grupo de doenças é hoje responsável por 5% dos casos letais, ocupando a sétima causa de óbitos, segundo os Cadernos de Informação em Saúde, atualizado pelo Ministério da Saúde em fevereiro. A situação muda em relação aos indicadores de morte após tratamento hospitalar. Nesse caso, os números de óbitos causados por doenças infecciosas e parasitárias crescem.
“As doenças endêmicas tiveram uma queda drástica nos últimos anos. Por outro lado, com o envelhecimento da população e a consequente queda da imunidade, as infecções se tornaram mais prevalentes”, diz o infectologista Marcos Boulos, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A septicemia, por exemplo, mata, em média, 20 mil brasileiros ao ano e, nesse grupo de doença, é a principal causa de morte. Pacientes que se tratam de câncer, aids ou que passam por transplante fazem parte da população mais exposta ao risco, afirma Boulos.
Para o ministério, a análise das mortes após internações não reflete a realidade epidemiológica brasileira. A base de dados estaria sujeita a revisões principalmente por um motivo – “por trás da septicemia estão outras doenças que precisam ser consideradas”, diz o diretor do departamento de análise de situação de saúde do ministério, Otaliba Libânio. Em 2008, a pasta distribuiu cartilha para médicos filiados ao Conselho Federal de Medicina com instruções sobre o preenchimento correto da certidão de óbito. “O problema é que o preenchimento errado gera informação incompleta”, diz Libânio.