Antes consideradas as últimas etapas do ciclo de consumo, o crack e a cocaína viraram a porta de entrada nas drogas para crianças de, em média, 13 anos. Estudo nos centros estaduais de atendimento de São Paulo mostra que, em dois anos, dobrou o número de menores de idade em tratamento intensivo, passando de 179 registros em 2006 para 371 no ano passado, um aumento de 107%.
Para os especialistas, a presença maior desses dois tipos de entorpecentes reflete três estratégias de mercado que passaram a ditar o tráfico: fidelização da clientela cada vez mais cedo; facilitação do acesso a drogas de todos os tipos e diversificação do público consumidor. “Todo negócio exige ampliar o consumo e o crack não poderia continuar sendo tão restrito”, afirma Luizemir Lago, responsável pela política antidrogas do Estado de São Paulo e uma das responsáveis pelo levantamento.
O crack e a cocaína já não são mais consumidos por apenas um estereótipo de viciado. A compulsão está em todas as classes sociais. Inaugurada no fim de janeiro, a clínica Jovem Samaritano, primeira instituição pública de internação para adolescentes dependentes, é a prova de que o pó virou droga de estreia. Todos os meninos que foram levados para o local, por determinação judicial, encaminhamento do conselho tutelar ou serviço de saúde, respondem com a palavra “cocaína” quando indagados sobre o motivo para a chegada “ao fundo do poço”.