Mesmo com a realização de segundo turno, a vantagem do Campo Majoritário na eleição à presidência do partido provocou ontem a saída do ex-deputado federal Plínio de Arruda Sampaio e de um grupo de deputados federais que o apoiaram na disputa pelo comando do partido. Os deputados Ivan Valente (SP), Orlando Fantazzini (SP) e Chico Alencar (RJ) acompanharão Plínio de Arruda Sampaio para o PSOL, a sigla criada pela senadora Heloísa Helena e os deputados Babá e Luciana Genro, expulsos do PT em 2003.
Ontem à tarde, a informação era que Plínio está se preparando para ser candidato a vice-presidente da República na chapa que o PSOL pretende lançar à sucessão presidencial do próximo ano. Heloísa Helena será a candidata à presidência da República. Ontem, em repúdio à crise, à política econômica e aos resultados da eleição interna do PT, um grupo de 400 petistas realizaram ato ontem em São Paulo para se desfiliar do partido e ingressar no PSOL.
Valente e Sampaio justificaram a desfiliação afirmando que o PT ?esgotou seu papel como instrumento de transformação da realidade brasileira?. Na nota conjunta divulgada ontem, eles criticam também a política econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva e os rumos do partido depois da eleição de 2002.
Ficam
Apoiadores de Plínio de Arruda Sampaio no Paraná – ele foi o segundo mais votado no Estado, perdendo apenas para o deputado federal Ricardo Berzoini – o deputado estadual Tadeu Veneri e a deputada federal Clair da Flora Martins – divulgaram nota informando que permanecem no partido.
Veneri reuniu-se com Plínio na última sexta-feira, dia 23, em São Paulo, onde foi informado da decisão do ex-deputado. Veneri disse que lamenta a saída de Plínio, mas que continua acreditando que o PT ainda pode se reconciliar com seus princípios e voltar a ser um instrumento de mudanças. ? Sentiremos a falta da força do caráter e da fé do Plínio em uma nova sociedade. Com ele se vai também um pouco da história do partido. Mas sempre estaremos próximos porque continuaremos tendo em comum a crença de que é possível mudar este País. Nós vamos continuar no PT disputando espaços e posições para que o nosso partido se reconcilie com o caminho da mudança?, afirmou.
Já a deputada Clair Martins disse que decidiu permanecer no partido após uma demorada discussão com grupos de militantes próximos ao seu mandato. ?Temos um projeto que começamos a construir e agora, com o 2.º turno nas eleições internas, temos a possibilidade de colocar em pauta nossas reivindicações de mudanças na política econômica e maior independência do partido com relação ao governo?, afirmou.
Do grupo que apoiou Plínio de Arruda Sampaio à presidência nacional do partido também ficam no PT os deputados Antônio Carlos Biscaia, do Rio de Janeiro, e Renato Simões, líder da bancada do PT na Assembléia Legislativa de São Paulo.
Aliados do Planalto devem fazer uma debandada
Brasília – Em meio à maior crise do governo Lula, a articulação política do Palácio do Planalto terá esta semana um desafio triplo pela frente: retomar a presidência da Câmara, mudar pontualmente as regras das próximas eleições e evitar a debandada de aliados. Acaba nesta sexta-feira o prazo para que os parlamentares que desejam disputar as eleições de 2006 troquem de partido. Ninguém se arrisca a cravar números, mas é dado como certo o encolhimento da base governista.
Atingidos diretamente pela crise, o PT, o PP, o PL e o PTB devem perder quadros para o PPS, o PDT, o PSB, o PSOL, o PSDB, o PFL e o PMDB, aumentando o bloco de oposição e dos parlamentares que se declaram independentes em relação ao Planalto. As mudanças devem transferir dos petistas para o PMDB a condição de maior bancada da Casa.
Com 87 deputados (um a menos que o PT), os peemedebistas esperam o ingresso de sete a 10 parlamentares até sexta-feira. ?Estamos recebendo adesões por gravidade?, diz o vice-líder do PMDB Adelor Vieira (SC). Desde o início desta legislatura, em fevereiro de 2003, o partido foi o que mais ganhou cadeiras na Câmara: 17. É o mesmo número de assentos que, na outra ponta, o PFL perdeu nesse período. Desde fevereiro de 2003, a Câmara registrou 236 trocas partidárias. Dos 513 deputados, 145 já mudaram de legenda.
O PT, que desde o seu nascimento até a crise política, conheceu apenas o caminho do crescimento, começou a definhar. Depois de perder na semana passada para o PSOL o deputado João Alfredo (CE), o PT pode ficar sem outros nove representantes, que participaram nesse fim de semana de uma teleconferência para decidir o futuro político.
