Brasília
(AE, AG e agências) – Apesar de não ser um consenso nem mesmo entre os dissidentes, ala oposicionista do PMDB decidiu apresentar na convenção nacional do partido a proposta de coligação com o PT, em torno da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, para presidente. Uma comissão deverá conversar hoje com a executiva nacional do partido para formalizar a proposta, o que significa incluí-la na pauta da convenção do próximo dia 15, onde serão disputados os votos de 687 delegados. Caso a executiva não aceite, os oposicionistas prometem recorrer à Justiça.Mas nem mesmo o apoio a Lula é consenso entre os dissidentes do PMDB. A posição é defendida principalmente pelo ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, que preside o diretório do PMDB no Estado, e pelo grupo do senador Roberto Requião (PMDB-PR). O grupo liderado pelo ex-presidente José Sarney prefere que o partido caminhe sozinho, sem candidato. Na realidade, os dissidentes estão unidos em um objetivo: estragar a festa dos tucanos.
As duas tendências – dissidentes e governistas – tiveram reuniões ontem em Brasília, tentando encontrar soluções para definir para que lado conseguirão levar o maior partido do Brasil. O ex-governador paulista, Orestes Quércia, presidente do partido em seu estado, disse que o PMDB vai apoiar a candidatura de Lula, indicando, possivelmente, Pedro Simon como vice. Simon foi rejeitado há poucas semanas pelo próprio partido para ser o vice de José Serra. Segundo Quércia, há possibilidade da tese de apoio a Lula vencer a convenção no dia 15. “Eu acredito que nós temos chance de ganhar. Acho que a tese de apoio ao PT é importante para a base do partido”, disse o ex-governador.
Por sua vez, a pré-candidata a vice na chapa de Serra, deputada federal Rita Camata (PMDB-ES), disse ontem que está tranqüila com relação à consolidação da aliança entre os dois partidos. Segundo ela, os comentários sobre a possibilidade de a tese da coligação ser derrotada na convenção do PMDB, dia 15, são boatos. “Não tenho nenhuma intranqüilidade. Há muito boato sobre isso”, disse Rita. A deputada afirmou que pretende conversar com alguns peemedebistas contrários à aliança com os tucanos e, principalmente, com o senador Pedro Simon (RS), que depois de ter sido preterido para vice de Serra adotou posição dúbia sobre a coligação. “Já falei algumas vezes com ele. Vou tentar convencê-lo de que essa aliança é o melhor para o Brasil”, afirmou.
Rita Camata participou ontem de uma outra de reunião da cúpula do PMDB, esta favoráveis a alinça com o PSDB, que aconteceu na casa do presidente do Senado, Ramez Tebet (MS). O presidente da Câmara, deputado Aécio Neves (PSDB-MG), disse que o PSDB está fazendo esforço para buscar uma composição com o PMDB nos Estados onde ainda há dificuldades para formação da aliança entre os dois partidos. Segundo ele o assunto foi tema de conversa que manteve, anteontem à noite, com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Na reunião de ontem ficou estabelecido o prazo até o dia 9 deste mês para resolver problemas de coligações dos dois partidos em alguns estados como Pará, Acre e Rondônia. Problemas mais difíceis, como dos estados de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais, ficaram para a próxima semana.
O grande problema para a consolidação da aliança é convencer os partidos nos estados de que isto é importante. Fora os estados onde os peemedebistas são dissidentes como o Paraná, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, o PMDB enfrenta problemas de divisão em Mato Grosso, Maranhão, Pará, Ceará, Paraíba, Rondônia e Roraima. Governadores como Itamar Franco, de Minas Gerais, não escondem sua simpatia por Lula. Em Santa Catarina a situação está indefinida, mas é possível que o partido feche – a contragosto – com os tucanos.
Mas também há o caso de lideranças importantes, como a do senador Pedro Simon. Ampliando o clima de dissidência, o senador Simon propôs uma aliança do partido com o PT, lembrando que o PMDB deverá apoiar o candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, em pelo menos quatro estados. Ontem, pela primeira vez, Pedro Simon admitiu publicamente a possibilidade de ser o candidato na chapa com Lula, ao mesmo cargo em que foi rejeitado para a chapa de Serra. “Tudo depende da decisão do PMDB do Rio Grande do Sul”, disse. O parlamentar, no entanto, reconhece as dificuldades que os peemedebistas gaúchos têm em aceitar a proposta, já que, no Estado, fazem oposição ao PT de Olívio Dutra e do pré-candidato Tarso Genro. “Eu acho muito difícil porque há problemas no Rio Grande do Sul.”
