Discordar de Lula é normal, avalia Alencar

Brasília – Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a cada dia que passa tem o estilo de governar comparado ao de seu antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso, o mesmo não ocorre com seu vice José Alencar, que pouco faz lembrar o último ocupante do Palácio do Jaburu, o senador Marco Maciel (PFL-PE). Em oito anos de governo do PSDB, Maciel, nas entrevistas que dava, fugia de polêmicas.

Já Alencar fala o que quer, não hesita em dar sua opinião sobre qualquer assunto e é convocado por Lula para as principais reuniões de governo. “Eu me sinto totalmente à vontade para expressar minha opinião. Afinal, nosso País vive num regime democrático”, diz Alencar, cujas declarações nas últimas semanas foram até interpretadas como divergências dentro do governo.

Ele nega, no entanto, que tenha qualquer discordância com a linha de ação do governo. Diz, por exemplo, que quando declarou que temia que a reforma tributária se tornasse um arremedo de reforma, manifestava uma posição de todo o governo e também da sociedade brasileira: “Digo e acredito que todos pensam a mesma coisa. Ninguém quer um arremedo de reforma. Ela tem de ser cabal, simplificar o sistema tributário e possibilitar a retomada do crescimento econômico”.

Mas devido à repercussão negativa de suas declarações, Alencar tomou a iniciativa de abordar o assunto na quarta-feira passada, durante a reunião em que Lula e os 27 governadores decidiram o texto base das reformas tributária e previdenciária. O presidente, contudo, em nenhum momento cobrou qualquer explicação de seu vice. “Tenho que ter gente no governo que fala as coisas que o Zé Alencar fala” costuma repetir o presidente toda vez que alguém menciona alguma declaração mais polêmica de seu vice.

O chefe da Casa Civil, José Dirceu, que não costuma perdoar deslizes de correligionários, não entra na linha de confronto no caso de Alencar. Pelo contrário, ajuda a amenizar o impacto das declarações do vice-presidente. “Está bem claro que ele falou como cidadão, não como empresário ou vice. No governo todos têm liberdade de expressão, mas também unidade de ação”, salientou Dirceu na quarta-feira, minimizando as críticas do vice à reforma tributária.

Desde a escolha de Alencar para a chapa de Lula, a relação do presidente com seu vice extrapolou os limites formais da política. Os dois se transformaram em amigos quase que inseparáveis. Não é raro Lula convocar Alencar para suas audiências, para acompanhá-lo em viagens pelo País e, sobretudo, para eventos informais como o jogo de futebol promovido entre os assessores do presidente e os do vice. “Nosso relacionamento é fraternal”, atesta o vice sem pestanejar.

Resistências

A despeito das resistências do PT em aceitar um empresário e representante do PL na chapa do partido na campanha passada, Lula se empenhou pessoalmente para ter Alencar ao seu lado. Do outro lado, o então senador do PL também não poupou esforços para convencer os correligionários a aceitarem a aliança nacional, que acabou comprometendo a campanha do partido em vários estados. De lá para cá, os dois não se desgrudam e atuam em sintonia fina.

Mas o vice em nenhum momento perde de vista que quem está no comando do País é Lula. “O presidente tem um relacionamento muito estreito comigo, mas não precisa me consultar para nada. É um homem extremamente preparado para a função”, ressalta Alencar, que nunca recebeu uma missão específica do presidente. No máximo, ele tenta dividir com Lula o excesso de demandas por audiências. “A agenda do presidente é muito pesada, por isso algumas pessoas que não têm como falar com ele me procuram”, conta Alencar.

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