Numa reação à exoneração do infectologista Dirceu Greco da direção do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, os diretores adjuntos do órgão, Eduardo Barbosa e Rui Burgo, pediram demissão nesta quarta-feira, 5. A crise no programa, que durante anos foi considerado como referência internacional, foi deflagrada na terça-feira, 4, com a suspensão, determinada pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, de uma campanha para combater o preconceito às profissionais do sexo.
Greco e Barbosa atribuem o desfecho a uma onda conservadora no governo. “Fui destituído e rapidamente exonerado pelo secretário de Vigilância em Saúde por ordem do ministro da Saúde, por discordâncias do ministério com a condução da política de direitos humanos (…), que não coadunava com a política conservadora do atual governo”, afirmou Greco, num e-mail de despedida, divulgado logo depois da sua demissão.
A campanha, lançada no fim de semana pelo departamento nas redes sociais, trazia peças com mensagens de prevenção. Numa das peças, como o jornal O Estado de S.Paulo revelou, uma profissional do sexo afirma: “Eu sou feliz sendo prostituta.” Embora elogiada por médicos especialistas no combate à aids e por integrantes de organizações não governamentais, a iniciativa provocou polêmica. No Congresso, o ministro foi cobrado.
Cotado para disputar as eleições para o governo do Estado de São Paulo, Padilha recuou. Mandou tirar a peça da página na manhã de terça-feira, dia em que o jornal publicou a reportagem. Na noite do mesmo dia, exonerou Greco e determinou a retirada de todo material, para “avaliação”.
Padilha afirmou que as peças estavam em teste, não haviam sido aprovadas pela Assessoria de Comunicação Social e não atendiam os objetivos de prevenção. Esta é a terceira vez que o ministro determina a retirada de material com potencial de polêmica. Em março deste ano, ele determinou a suspensão da distribuição de um kit educativo. No ano passado, a campanha de carnaval, com foco em jovens gays, também teve sua veiculação suspensa. A justificativa dada na época era a de que o material era de divulgação restrita.
A crise despertou a atenção da imprensa internacional e provocou uma reação imediata de ativistas. No twitter, Padilha teve de responder a uma série de manifestações contrárias. “O movimento está articulado. Vamos divulgar uma carta, as paradas gays vão mostrar a indignação, mostrar toda insatisfação contra esse retrocesso”, afirmou o coordenador de projetos do Movimento Gay de Minas, Oswaldo Braga.
Leila Barreto, da Rede Brasileira de Prostitutas, disse temer pelo futuro do programa. “Nos últimos anos, houve um estrangulamento das atividades das ONGs. Nós resistimos, buscando financiamento internacional. Não paramos, fomos para as esquinas por conta própria para fazer atividades de prevenção”, conta. “Não vamos deixar que conquistas no combate à aids, que custaram vidas, esforços de toda uma população, retrocedam. Hoje o problema foi com as prostitutas. Amanhã, o desrespeito ao direitos humanos poderá mirar também em outros grupos.”