Brasília – O diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Mauro Marcelo de Lima e Silva, produziu uma nota em que chama a CPI dos Correios de "picadeiro" e os integrantes da comissão de "bestas-feras". A nota circulava internamente e chegou às mãos do PFL por meio de um informante. Foi o suficiente para se instalar mais uma crise: desta vez, dentro da CPI que investiga as denúncias de corrupção.

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O protesto do diretor da Abin deve-se ao depoimento público do agente Edgar Lange na semana passada para explicar as investigações que a agência fazia sobre o esquema de corrupção nos Correios. A Abin havia pedido que o depoimento fosse secreto para não expor a imagem do agente, sob o argumento de que o servidor teria problemas para fazer investigações depois do depoimento. Os integrantes da CPI decidiram fazer uma sessão aberta. "Neste exato momento, o que devo fazer é elogiar a conduta do profissional Lange, como um verdadeiro herói ao enfrentar bestas-feras em pleno picadeiro", informa o diretor na nota.

No documento, Mauro Marcelo critica ainda a AGU (Advocacia-Geral da União) por não se empenhar, na opinião dele, para defender o servidor. "Estou, pessoalmente, tentando entender a falta de empenho da AGU na proteção do nosso servidor", afirma na nota.

A pedido do relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Félix, enviou à comissão cópia da mensagem veiculada na intranet da Abin. O general Félix ainda não anunciou nenhuma providência sobre o caso, mas teria conversado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A avaliação do governo é de que Mauro Marcelo usou termos impróprios ao se referir à CPI dos Correios como picadeiro e ao tratar os integrantes da comissão como bestas-feras na medida em que a Abin é um órgão de Estado. O assunto estava em discussão e o diretor da Abin poderia ser demitido ainda ontem à noite.

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Mas o caso não ficou apenas aí. A CPI aprovou a convocação do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Félix, e de Mauro Marcelo, para dar explicações sobre a mensagem. A CPI também ficou de encaminhar ao Ministério Público um pedido para que apresente uma ação criminal contra Mauro Marcelo por causa da forma como se referiu aos parlamentares. O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), também encaminhou ao ministro Jorge Félix uma carta de repúdio e pedindo que o fato seja comunicado ao presidente Lula.

O presidente do Senado, Renan Calheiros, disse que se Marcelo fosse funcionário do Senado, já estaria demitido. Renan classificou o diretor da Abin de "destrambelhado". O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), subiu à tribuna na tarde para condenar Mauro Marcelo. "O presidente Lula tem dificuldade para demitir corruptos e espero que seja mais rápido para demitir alguém que acha que há besta-fera no Congresso. Se depender de mim, não vai continuar na Abin", disse Virgílio.

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O tucano acusou Mauro Marcelo de tentar transformar a Abin no extinto Serviço Nacional de Investigação (SNI), da ditadura militar.