Foto: José Cruz/Agência Brasil |
Deputado continua lutando pelo mandato. continua após a publicidade |
Com julgamento marcado para o dia 23 no plenário da Câmara, o ex-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu (PT-SP), calculou que sua situação "melhorou muito" perante a opinião pública depois que ele ganhou sobrevida, com os inúmeros recursos à Justiça. "Mudou da água para o vinho", avaliou.
"Não faço isso para postergar o meu julgamento nem para fazer chicana, mas tenho o dever moral de me defender." Na contabilidade de seu gabinete, Dirceu já conversou com 300 parlamentares. Apesar de todas as evidências indicarem que ele será cassado, o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) – uma espécie de ajudante-de-ordens do ex-ministro no "mapeamento" dos votos – jura que haverá surpresas.
Os cálculos de Virgílio indicam que Dirceu já contaria com o apoio de 200 dos 512 parlamentares. Para a cassação, são necessários, no mínimo, 257 votos.
"Se Dirceu vier falar comigo não vai adiantar nada, porque estou convencido de que ele é culpado", disse o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR). O ex-ministro, porém, conseguiu mudar a opinião de alguns colegas da esquerda do PT.
"Os episódios em apuração trouxeram gravíssimas conseqüências ao PT e ao governo, mas não há prova objetiva que caracterize o envolvimento de Dirceu nesse escândalo", disse o deputado Tarcísio Zimmermann (PT-RS), coordenador da Democracia Socialista. "Os dados, até agora, são frágeis para cassá-lo, mas sólidos para sustentar sua responsabilidade política."
Vingança
Dirceu sentiu-se vingado com as críticas feitas segunda-feira pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao ajuste fiscal proposto pela equipe econômica. Em conversas reservadas, disse que Dilma apenas verbalizou o que todos os ministros gostariam de tornar público quando qualificou de "rudimentar" a proposta de aumento do superávit primário para reduzir os juros. "Ninguém é mais governista do que eu. Mas é preciso repactuar a política econômica."
Nas reuniões a portas fechadas com deputados e grupo de formadores de opinião, Dirceu sempre aconselha os eleitores do presidente Lula a travarem o que chama de "luta política". "Vocês precisam disputar os rumos do governo agora e depois", conclamou, na terça-feira, a dois públicos distintos: reitores de universidades federais e integrantes da esquerda petista.
Questionado por que tem adotado um discurso que alterna críticas e elogios ao governo, Dirceu negou o comportamento ciclotímico. Disse que, muitas vezes, sua frases são retiradas do contexto. "Faço análise política." Aos amigos, costuma repetir: "O problema é que eu penso e, quando penso, arrebento."