Dirceu provoca nova crise com PMDB

Brasília (AG) – Os ministros do PMDB ficaram constrangidos e a ala do partido que faz oposição ao Planalto está se divertindo com as declarações do chefe da Casa Civil, José Dirceu, de que o governo não precisa fazer nada para manter o partido na base aliada.

Mas o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), cobrou unidade no discurso do governo em relação ao PMDB. "Genoino me visitou e Aldo me telefonou. As palavras do ministro José Dirceu não coincidem com os gestos do governo. É preciso que a palavra do governo tenha uma certa uniformidade", disse Michel Temer, citando o presidente do PT, José Genoino, e o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo.

De novo, Aldo entrou em ação. Para reforçar o desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ter o PMDB no governo, convidou Temer para um almoço na próxima terça-feira (dia 16). O almoço acontecerá um dia depois de Lula conversar com o líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), durante viagem oficial a Maceió.

Candidato

Candidato à presidência do Senado, Calheiros considerou negativa a declaração do chefe da Casa Civil. Mesmo assim, evita criticá-lo, pois não quer se incompatibilizar com o PT e o governo até ser derrubada a emenda da reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado.

Mas sua avaliação é de que a dubiedade do governo fortalece aqueles que querem que o PMDB adote uma posição de independência na convenção nacional marcada para 12 de dezembro. "Não dá para ir para a guerra sem saber qual o papel que o governo e o PT reservam para o PMDB", afirmou Renan.

Para o presidente do PMDB, os petistas ainda não perceberam as mudanças ocorridas no partido, sobretudo a diferença qualitativa da participação que tiveram no governo Fernando Henrique e que têm agora no governo Lula.

Um dos integrantes da ala oposicionista do PMDB, o deputado Geddel Vieira Lima (BA) diz que a previsão do chefe da Casa Civil, José Dirceu, pode ter o mesmo destino da feita pelo presidente do PFL, senador José Bornhausen (SC), em 1992, quando disse que "a CPI do PC não ia dar em nada".

Mesmo assim, Geddel reconhece que a história do PT autoriza Dirceu a tratar o PMDB como subserviente: "Ele disse o que pensa com aquele traço de arrogância que levou o PT à derrota em São Paulo e Porto Alegre. Sua declaração revela a falta de coordenação política do governo Lula".

Mudanças no PMDB já puderam ser percebidas no encontro nacional da semana passada. O presidente do Senado, José Sarney (AP), foi o único a defender o apoio ao governo. Os ministros Eunício Oliveira (Comunicações) e Amir Lando (Previdência) e os presidentes do INSS, Carlos Bezerra, e da Braspetro, Sérgio Machado, e o líder Renan Calheiros não abriram a boca.

Isso não acontecia no governo Fernando Henrique, quando a ala governista ia para a briga nos debates internos. A diferença se deve ao fato de que no governo tucano os ministros tinham força real no partido.

Reeleição agrava problema

Brasília (AG) – Em meio à polêmica com o PMDB, a fala mansa e o jeito conciliador do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), são quase uma contradição com seu estilo agressivo de fazer política. No comando da Câmara há 20 meses, ele demonstrou tolerância e garantiu espaço para a oposição, a ponto de irritar os mais governistas. Mas também revelou-se capaz de ser obsessivo na articulação para aprovar uma emenda constitucional que permita sua reeleição e a do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

A reeleição é apontada como a principal causa do impasse na agenda da Câmara, que provocou uma fila de mais de 20 medidas provisórias à espera para serem votadas e está irritando muitos aliados. A reeleição, no entanto, é a menor das ambições de João Paulo. Seu nome é lembrado também como uma das alternativas para a reforma ministerial e para disputar o governo de São Paulo em 2006.

"O PT tem seis pré-candidatos. João Paulo tem potencial de crescimento", diz o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que integra a lista de possíveis candidatos à sucessão do tucano Geraldo Alckmin, juntamente com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, a prefeita Marta Suplicy, o presidente do PT, José Genoino, e o ministro José Dirceu.

Irritação

Vitorioso nas eleições municipais com a vitória de Emídio de Souza em Osasco, João Paulo não esconde de um grupo de deputados petistas que deseja ser candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Até o mês passado, via em Mercadante o principal obstáculo para concretizar seu sonho. Agora, crê que Marta é a principal adversária.

Críticas

A disposição de ficar na presidência da Câmara, trampolim para sua candidatura em 2006, provoca muitas críticas. "João Paulo é insaciável", afirma o deputado Paulo Delgado (PT-MG). Atuando em dobradinha com Dirceu, João Paulo criou sua própria tropa de escudeiros na Câmara, formada por Professor Luizinho (SP), líder do governo; José Pimentel (CE), relator da reforma da Previdência; Virgílio Guimarães (MG), relator da reforma tributária; Paulo Rocha (PA) e Devanir Ribeiro (SP).

"Governo esvazia as CPIs"

A notícia da suposta intenção do governo de excluir do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Banestado nomes de políticos que teriam enviado recursos ilegalmente ao exterior, publicada pelo jornal Correio Braziliense, levou o senador Pedro Simon (PMDB-RS) a denunciar uma tentativa de esvaziar o "poder investigador" do Congresso Nacional.

"Eu denuncio que há um movimento no sentido escancarado de desmoralizar as CPIs que existem e impedir que outras existam. Querem esvaziar aquilo que era importantíssimo nesta Casa, o direito de fiscalizar."

O senador elogiou a aprovação, pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), de projeto de resolução destinado a alterar o Regimento Interno do Senado para obrigar o presidente da Casa a indicar em cinco dias os integrantes de comissões parlamentares de inquérito, quando as indicações não forem feitas pelas lideranças partidárias.

Resposta

A medida, a seu ver, evitará a repetição de fatos como o ocorrido neste ano, quando uma comissão deixou de ser instalada – a CPI dos Bingos -por falta de indicação de parte dos integrantes por líderes da base governista. Caso o projeto seja aprovado em plenário, previu, não poderá mais ocorrer uma situação em que uma CPI só se instala com a concordância dos líderes, "rasgando o texto da Constituição".

Simon pediu uma resposta do presidente do Senado, José Sarney, à denúncia publicada pelo Correio, segundo a qual várias caixas de documentos provenientes dos Estados Unidos estariam sendo guardadas em uma sala secreta da CPI do Banestado. A medida, segundo a reportagem citada pelo senador, se destinaria a evitar uma nova crise com o PMDB, que neste momento discute o seu desligamento do governo.

"Onde está o presidente do Senado que não toma providências? Lava as mãos como Pilatos, e os documentos que estão aí, vindos dos Estados Unidos, vão terminar não sei aonde", questionou Simon.

O presidente da CPI, Antero Paes de Barros (PSDB-MT), tem se queixado, como lembrou Simon, de não conseguir levar adiante os trabalhos da comissão, por falta de quórum nas reuniões.

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