Dirceu perde o mandato para ser fantasma de Lula

No próximo dia 23 o deputado José Dirceu (PT-SP) deverá perder seu mandato e ficará oito anos impedido de disputar uma eleição. Mas não pretende ser esquecido. Mais do que isso, pode se transformar num fantasma para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e todos os companheiros que o entregaram ao seu trágico destino para salvar a própria pele. Alimenta três projetos de livros. A dúvida, por enquanto, é se conta agora tudo o que se passou nos bastidores do Palácio do Planalto nos 30 meses em que foi chefe da Casa Civil ou se silencia pelos próximos dez anos.

Esta decisão Dirceu tomará tão logo descanse uns dez dias, da batalha para tentar manter o mandato. Em seguida, ele vai se exilar numa praia deserta com o escritor Fernando Morais, autor de "Chatô" e "Olga", que já se declara entusiasmadíssimo com a biografia e a história de Dirceu. A idéia de Dirceu, hoje, é guardar segredo do que possa causar mais turbulência para Lula e o PT. Inclusive tudo o que foi feito pelo projeto de manter o partido no poder. Mas, se depender de Morais, ele conta tudo já, no livro que escreverão sobre os 30 meses em que o então chefe da Casa Civil era visto como mais poderoso do que o próprio presidente.

Os dois não decidiram em que praia vão se esconder para o trabalho, que incluirá oito horas de gravações de depoimentos por dia. Para aguçar os sentidos e a memória de Dirceu, estarão acompanhados de Marco Aurélio, dono do restaurante Piantella, que se ofereceu para cozinhar para a dupla no período de reclusão.

Dívidas

Com dívidas depois de pagar advogados para o processo da Câmara e os muitos a que deverá responder na Justiça, José Dirceu pensou o livro como forma de fazer dinheiro. Fernando Morais quer que ele conte tudo o que sabe já: "Se depender do autor, será para contar tudo. Se depender do personagem, ele vai decidir a hora de falar. Ele quer um livro que venda, precisa de grana, o que indica que será um livro autoral. Vou ajudá-lo a escrever na primeira pessoa. Se for o contrário, um livro assinado por mim, com a história dele, o dinheiro virá para mim", diz Morais.

O outro livro que Morais está escrevendo e terá Dirceu como um dos personagens vai refazer a história dos três sobreviventes do Molipo (Movimento de Libertação Popular). Depois da morte de Carlos Marighella, em 1969, Dirceu e outros militantes da ALN (Ação Libertadora Nacional) criaram em Cuba a dissidência que originou o Molipo. Numa viagem de Dirceu a Cuba, Morais o acompanhou. Com um cinegrafista, revisitou os locais onde Dirceu treinou guerrilha e aprendeu uma dezena de profissões, de fotógrafo a metalúrgico. Quando voltou ao Brasil, para Cruzeiro do Oeste (PR), Dirceu trabalhou como alfaiate.

Morais gravou depoimentos com o cirurgião plástico que mudou o rosto de Dirceu. Como Fidel Castro, Dirceu, que passou a se chamar Daniel, rejeitou a anestesia geral por medo de morrer. Com anestesia local, viu o médico cortar a cartilagem do nariz, abrir as maçãs do rosto para enxertar osso, afastar o couro cabeludo para puxar os olhos, pôr as próteses no nariz e no queixo. "Tenho fotos do "Daniel". Era outro homem, completamente diferente", diz Morais.

A plástica foi feita em 1974 e desfeita, com o mesmo médico, em 1979. Hoje, Morais lidera um movimento de intelectuais em defesa de Dirceu e foi depor como sua testemunha. Ele diz que não é amigo de Dirceu, mas acredita em sua inocência: "A crença de que é inocente é baseada na sua história. Não acredito que uma pessoa que se submeteu a essas coisas por idéias vá emporcalhar sua biografia por causa de dinheiro".

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