O deputado federal José Dirceu (PT-SP) teve o seu mandato cassado pela Câmara dos Deputados. Às 0h01 a votação dos parlamentares chegou a 257 votos favoráveis à cassação do petista.
Esse era o quórum mínimo para a aprovação pelo plenário do relatório do deputado Júlio Delgado (PSB-MG) apresentado ao Conselho de Ética. No momento da decisão, 179 deputados haviam votado contra a cassação. Com a decisão, Dirceu não pode se candidatar a cargos políticos pelos próximos dez anos.
Dois anos e onze meses depois de subir a rampa do Palácio do Planalto carregando os sonhos da geração de 1968, José Dirceu de Oliveira e Silva sai da cena política cassado e com uma obsessão: provar que foi injustiçado pela Câmara.
Agora, vai escrever um livro contando os bastidores dos 30 meses em que foi ministro-chefe da Casa Civil – o mais poderoso do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Promete revelações, principalmente contra desafetos.
"Só eu sei o que passei", diz o ex-deputado. Sem abandonar o estilo de guerrilheiro, que durante 120 dias tentou salvar o seu mandato, ele é taxativo: "Não vou me dobrar."
Dirceu ficou magoado com Lula – que só resolveu ajudá-lo nos últimos dias de agonia -, mas garante que as estocadas do livro não vão acertá-lo. "Vou continuar defendendo o PT e o presidente Lula", afirma.
Sua história começará a ser narrada na próxima semana ao jornalista Fernando Morais. O livro será escrito na primeira pessoa. Para tanto, Dirceu vai se submeter a um interrogatório diário de oito horas, durante dez dias.
No início de 2006, antes do lançamento do livro – previsto para abril -, o ex-ministro pretende viajar para os Estados Unidos. Emissários da secretária de Estado americano, Condoleezza Rice, com quem Dirceu mantém bom relacionamento, chegaram a convidá-lo para passar uma temporada em Washington e fazer palestras sobre a situação do Brasil.
Se aceitar o convite, o ex-deputado petista ficará hospedado na casa do amigo Bill, integrante do Partido Republicano. Planeja estudar inglês e permanecer na capital americana por um período que pode ir de 20 dias a dois meses.
Reeleição
O ex-ministro, ex-deputado e ex-presidente do PT não quer, porém, se afastar do Brasil por muito tempo. Mesmo cassado jura que trabalhará pela reeleição do presidente Lula, mas com condição: desde que o presidente se comprometa a mudar a política econômica num eventual segundo mandato.
"Fomos prisioneiros de uma visão muito ortodoxa e isso não pode continuar", opinou Dirceu. "Essa política de juros altos precisa ser revista para tornar viáveis os investimentos."