O presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP), antecipou em entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura, ontem (28), o estilo que deverá ter o novo governo que, assim como o PT, não admitirá divergências públicas entre seus integrantes. ?Não pode haver controvérsia com o presidente da República. Se ele toma uma decisão, ela tem de ser cumprida.?

Para Dirceu, as questões podem ser debatidas internamente, mas, quando vêm a público, ?o que prevalece é a palavra do presidente?. Ele deu as declarações após ser questionado se havia controvérsias internas sobre se o ministério de Luiz Inácio Lula da Silva será anunciado em bloco ou se o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central serão conhecidos antecipadamente.

?Uma coisa é discutir, ouvir. Outra é publicamente contestar uma decisão do presidente. Nem no partido, nem no ministério isso pode acontecer. Já vou deixar isso bem claro. É preciso preservar o princípio da autoridade?, ressaltou, lembrando que no presidencialismo ?todo mundo é demissível?.

Ele destacou, porém, que ?o partido funciona democraticamente, mas por delegação? e ressaltou que todos os petistas, até os mais radicais, aceitaram as decisões da maioria e participaram da campanha. ?Exceto um que eu nunca vou citar.?

Apesar da pregação disciplinar, Dirceu refutou que será o ?homem forte?. ?Não existe homem forte em governo do PT.? Para ele, insistir nessa tese, num regime presidencialista, significa quebrar ?as regras da democracia?.

E rejeitou também apelidos de ?sombra?, ?trator? e ?eminência parda?, dizendo que já perdeu discussões internas no PT e que sua atuação é pública. ?Se eu não fosse presidente do PT e não exercesse um tipo de poder legítimo, aí poderia se falar em eminência parda?, disse ele, que lembrou estar em seu quarto mandato como deputado e presidir o PT há 8 anos. ?Tenho que repelir, é inadimissível, eu não mereço isto.?

Elogios

Tal exercício de humildade incluiu uma autocrítica e elogios ao presidente Fernando Henrique Cardoso. ?No atual governo, podemos ter errado no tom, na intensidade, ou por falta de propostas alternativas ao criticar.? E reconheceu: ?É evidente que o Brasil mudou muito e que há méritos no governo de Fernando Henrique.?

Para Dirceu, durante o atual governo foram criadas as condições para que o País pudesse escolher entre Lula e o tucano José Serra. ?Quando Fernando Henrique garante a transição, preside as eleições e não jogou toda a sua força e prestígio na disputa eleitoral.?

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