O presidente do PT e coordenador político do processo de transição, deputado José Dirceu, atribuiu ao atual governo e a sua política econômica as eventuais medidas impopulares a serem tomadas pelo PT já na votação do Orçamento e no início do futuro governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo ele, “beira o sinismo” os apelos de integrantes da base governista, hoje, por um aumento do salário mínimo a R$ 240 – proposta defendida pela oposição no Congresso antes da vitória de Lula -, assim como a redução da carga tributária, que passa pelo fim da alíquota de 27,5% do imposto de renda. “É fácil os membros do governo irem para a TV e ficarem fazendo jogo de palavras: beira o sinismo, porque eles é que são responsáveis pela impossibilidade de se dar um aumento maior do salário mínimo.”

Dirceu afirmou que passou a semana “ouvindo” as críticas de parlamentares da base governista. “Eu disse ‘vamos deixar eles falarem primeiro’, mas agora nós vamos começar a falar porque eles abusaram da nossa paciência nessa discussão do salário mínimo e, inclusive, na questão da reforma tributária, porque nós votamos a favor dela, temos autoridade política para falar.”

Apesar do tom duro, o presidente do PT acredita que a relação “institucional” entre a equipe de transição petista com a do governo, não deve ser abalada. “Estamos tendo apenas um debate político, não haverá nenhum desdobramento na relação institucional.”

O presidente do PT deixou claro, mais uma vez, que o Orçamento a ser aprovado pelo Congresso para 2003 é de responsabilidade do presidente Fernando Henrique Cardoso. “O Orçamento não é do governo Lula, é do governo Fernando Henrique Cardoso e foi estabelecido a partir das conseqüências de sua política econômica”, disse. “O PT fez propostas ao País num cenário que não existe mais, nós não mudamos nada. O que se agravou foi a situação do Brasil.”

Irônico, o petista declarou que o atual governo ainda tem maioria para aprovar seus projetos de interesse no Orçamento, inclusive o aumento do mínimo. Mas, sob a ótica petista, o cenário é pouco favorável para grandes mudanças. “Essas questões não podem ser equacionadas agora, isso não significa que somos favoráveis a essa alíquota”, afirmou Dirceu, referindo-se também ao aumento do salário mínimo.

“Quando vier a reforma tributária discutiremos a proposta de reforma tributária do deputado Mussa Demes que o partido apoiou.” E ressaltou: “A economia se deteriorou muito mais do que estava quando a atual proposta de Orçamento chegou ao Congresso”.

O confronto entre o PT e o atual governo foi acirrado já na sexta-feira, quando o secretário-geral da legenda, Luiz Dulci, afirmou que os aumentos dos combustíveis foram propositadamente retardados à espera das eleições.

Dirceu declarou que o partido pretende rever a política de reajustes que atrela uma série de tarifas – entre elas, ainda as de energia, ao dólar. “Esse foi um erro que levaremos anos para consertar.” Segundo o presidente do PT, há tempo hábil para que Lula indique os ministros e, especialmente, o novo presidente do Banco Central antes de 15 de dezembro, possibilitando a aprovação do nome pelo Senado para que o indicado assuma já no início da gestão petista.

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