São Paulo (AE) – Enquanto a aviação brasileira patina, com controladores de vôo mal pagos e sobrecarregados, infra-estrutura insuficiente e equipamentos obsoletos, o Tesouro gera caixa desviando recursos do Fundo Aeronáutico. Composto por taxas cobradas dos passageiros – um dinheiro carimbado que deveria ir para a aviação -, o fundo tem saldo acumulado de R$ 1, 87 bilhão na conta do Tesouro.
Resultado de uma rotina de contingenciamentos anuais de 30% que vem desde o governo anterior, o dinheiro equivale a mais de cinco vezes o que foi gasto na construção do novo aeroporto do Recife (R$ 329 milhões), um dos mais modernos do país, com 5 milhões de passageiros ao ano. No entanto, assim como os fundos para as telecomunicações e penitenciárias, tem servido para fazer superávit primário – a economia para pagar juros da dívida.
A informação foi levantada pela organização não governamental Contas Abertas, no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), ligado ao Tesouro. Com base nela, e a pedido do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) requereu na terça-feira esclarecimentos do Ministério da Defesa e da Aeronáutica sobre a destinação de recursos ao Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta). Eles têm 30 dias para responder. ?O próximo passo pode ser auditoria do Tribunal de Contas da União?, diz Gabeira.
Enquanto isso, os aeroportos brasileiros acumulam pequenos gargalos que se traduzem em grandes transtornos. Curitiba tem a pista mais perigosa do Brasil, por causa de problemas de drenagem. Por estar numa altitude elevada, que torna o ar mais rarefeito e a aproximação do avião mais veloz, seu comprimento precisa ser aumentado. Brasília construiu a tão esperada segunda pista e aumentou o número de vôos, que agora atrasam por falta de ônibus, pátio e fingers. Recife também precisaria da segunda pista. Em Congonhas, o ILS, sofisticado sistema de radar de aproximação, só funciona para um lado da pista, que, além do mais, é só uma e curta.
Os problemas se avolumam à medida que o transporte aéreo cresce 15% ao ano – 5 vezes mais que a economia. O barateamento das passagens aéreas, depois da liberação de preços, da introdução de estratégias de baixo custo pela Gol e pela BRA, e da queda do dólar, tem popularizado o transporte aéreo. De acordo com Tarcísio Gargione, vice-presidente da Gol para a área de marketing, 10% de seus 50 milhões de passageiros (desde 2001) voaram pela primeira vez.
