Foi uma festa de arromba. Vestida com um longo azul petróleo, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, abandonou na noite de sexta-feira (18) o ar circunspecto e ensaiou vários passos de dança na pista da Associação Leopoldina Juvenil, em Porto Alegre, ao lado do ex-marido Carlos Araújo, para comemorar o casamento da sua filha, a advogada Paula Rousseff Araújo. Dilma tinha motivos para estar feliz, além daquela união. O marqueteiro João Santana revelou a convidados uma informação preciosa: pesquisa encomendada por ele mostra que, mesmo sob o tiroteio da oposição, Dilma ganhou pontos na preferência do eleitorado como pré-candidata do PT à Presidência, em 2010.

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No salão enfeitado com rosas colombianas vermelhas, Santana disse que a pesquisa mostra um quadro animador para a chefe da Casa Civil, mas guardou os números em segredo. A conclusão é de que o dossiê descoberto no Palácio do Planalto, com dados sigilosos sobre gastos do governo Fernando Henrique, não prejudicou Dilma. Ao contrário: deu a ela visibilidade nacional para sustentar uma campanha mais adiante, como planeja o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula compareceu à cerimônia religiosa do casamento de Paula com o administrador de empresas Rafael Covolo, na Igreja São José – que reuniu dez ministros e nove governadores, além de pesos pesados da economia -, mas não foi à festa no elegante clube do bairro Moinhos de Vento porque embarcou para Gana, na África, onde permanecerá até segunda-feira. Foi o presidente que escalou Santana – o publicitário de sua campanha à reeleição e hoje consultor do governo – para ajudar Dilma a se desvencilhar da crise.

"Esse dossiê é uma bobagem", resumiu o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB). "Qualquer coisa que diga respeito a despesas de pessoas públicas deve ser aberta. Por que os gastos do ex-presidente Fernando Henrique não podem ser abertos também?"

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Sentado em outra mesa, ao lado do senador José Sarney (PMDB-AP), o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), que recentemente disputou com a chefe da Casa Civil vários cargos no setor elétrico, fez questão de desfazer a imagem de confronto entre os dois. "Dilma é importante não só pelo cargo que ocupa, mas para a segurança do desenvolvimento nacional", disse Lobão, que chegou a compará-la ao general Golbery do Couto e Silva, poderoso chefe da Casa Civil no governo Geisel.

I Will Survive

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Embalada por ritmos variados, que iam de Frank Sinatra a Roupa Nova, passando por Tim Maia, a política freqüentou as rodas de conversa na festa até a madrugada. Por volta de 1 hora, os cerca de 600 convidados foram brindados com a indefectível interpretação de Gloria Gaynor em "I Will Survive", o hit da sobrevivência nesses tempos de crise.

"O único candidato à Presidência que faltou, da base aliada, foi justamente o meu: Ciro Gomes", constatou o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo na Câmara, numa referência ao colega do PSB. "Por isso a disputa presidencial, aqui, não foi completa."

Bem-humorado, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, não perdeu a piada. "Eu saí antes da votação", brincou À mesa com Santana, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), e o ex-ministro Luiz Fernando Furlan, Bernardo disse que a prosa girou em torno dos "acepipes produzidos no Rio Grande do Sul". Mas, questionado se Dilma sairia candidata, em 2010, ele abriu um sorriso. "Tinha gente achando que ela poderia ser", admitiu. "A conversa estava muito boa e é claro que todo mundo falou sobre política, mas nada de muito sério."

Depois dos "acepipes", os convidados se deliciaram com o jantar, que teve camarão com purê de mandioquinha de entrada, medalhões com risoto de alho poró como prato principal e petit gateau de doce de leite, acompanhado de sorvete de creme, na sobremesa. Tudo regado a vinho tinto chileno Casa Silva, espumante argentino Freixenet e uísque Red Label. Cinco mil docinhos de vários tipos e bem-casados embrulhados em papel crepom vermelho completavam o rol das guloseimas.

"Estava tudo muito organizado e de muito bom gosto", elogiou a ministra do Turismo, Marta Suplicy, provável candidata do PT à Prefeitura de São Paulo nas eleições de outubro. No telão, imagens da vida dos noivos agradaram aos convidados, dispostos em mesas redondas de oito lugares, enfeitadas com flores vermelhas e castiçais com pingente de cristal, em forma de gota. Seria tudo vermelho por causa da cor do PT? "As flores são vermelhas pela paixão, e não pelo PT", filosofou o governador de Sergipe, Marcelo Déda.