Dez meses de crise abalam governo Lula

Os cerca de dez meses da crise política do governo Lula foram recheados de denúncias de corrupção em empresas estatais, suspeitas de compra de votos de parlamentares da base aliada, provas de caixa 2 em campanhas eleitorais e resultaram em afastamentos e cassações de envolvidos. As frentes de investigação foram abertas nos três poderes da República no governo federal, no Congresso Nacional, e no Judiciário. Veja abaixo o resumo da crise política.

Após acusações de seu envolvimento em corrupção nos Correios, o então presidente do PTB, o deputado cassado Roberto Jefferson, do Rio de Janeiro, declarou no dia 6 de junho de 2005, em entrevista à Folha de S. Paulo, que havia na Câmara Federal um sistema de compra de votos de parlamentares, pelo qual o governo aliciaria deputados mediante pagamentos mensais de R$ 30 mil.

A acusação detonou o escândalo do mensalão, que abriu espaço para a instalação de três Comissões Parlamentares de Inquérito no Congresso Nacional: a da Compra de Votos, que terminou sem votação de relatório final, a dos Bingos, e a dos Correios.

Em setembro, as CPMIs dos Correios e da Compra de Votos já tinham entregado um relatório parcial no qual citavam 19 parlamentares que teriam sacado recursos ilegais por meio do esquema montado pelo empresário mineiro Marcos Valério de Souza e pelo ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), Delúbio Soares, acusados de serem os ?operadores do Mensalão?

Dos 19 parlamentares, três foram cassados, entre eles o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, e o denunciador do ?esquema?, o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson. O episódio também resultou na queda do presidente do Partido dos Trabalhadores José Genoino, e do PSDB, Eduardo Azeredo, acusado ter montado esquema semelhante em Minas Gerais, para as eleições de 1998. O processo de cassação de Azeredo, no entanto, foi arquivado pelo Congresso Nacional em março deste ano.

Três ministros também saíram: Antônio Palocci, da Fazenda, e José Dirceu, da Casa Civil, pediram afastamento. Luís Gushiken, de Gestão e Comunicação Estratégica, perdeu o status de ministro, mas continua no governo como chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da presidência.

Outros quatro deputados federais renunciaram aos cargos antes da abertura dos processos, para não perderem os direitos políticos para disputar as próximas eleições. Entre eles, Severino Cavalcanti, que abandonou a presidência da Câmara dos Deputados para escapar da cassação. Ao todo, incluindo o segundo escalão do governo e diretorias de estatais, 67 foram varridas de seus cargos pela crise.

Planalto teme escândalo do caseiro

Brasília (AE) – Apesar do estardalhaço em torno da divulgação do relatório da CPMI dos Correios e dos estragos que a oposição prometia com ele, no Palácio do Planalto, ontem, a verdadeira preocupação era com os prejuízos à imagem do governo e à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o caseiro Francenildo Costa trouxe ao desmentir Antonio Palocci, que levou à demissão do ministro da Fazenda e do presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso. Auxiliares do presidente estão convencidos de que os efeitos do mensalão, denunciado pelo ex-deputado Roberto Jefferson, já foram absorvidos pela população, mas a imagem do caseiro tendo o seu sigilo bancário violado por ter enfrentado o ministro da Fazenda é considerada ?muito grave? e ?fatal? para a imagem do governo.

O Palácio do Planalto está aguardando para os próximos dias novas pesquisas mostrando o tamanho do estrago das denúncias. ?O desgaste será muito grande?, reconhecem interlocutores do presidente Lula, que só pretendem fazer uma avaliação mais detalhada das conseqüências das denúncias depois de verem os novos números, para saber qual a extensão do prejuízo. No caso do relatório da CPMI dos Correios, de acordo com interlocutores do Planalto, o governo não estava demasiadamente preocupado com o texto apresentado, porque ele tinha sido quase que completamente negociado. Existiam poucos pontos em desacordo, mas que ainda eram passíveis de entendimento.

O problema que estava sendo considerado mais grave era em relação às acusações feitas ao ex-ministro da Secretaria de Comunicação de Governo, Luís Gushken, e a sugestão de indiciá-lo pela prática de corrupção ativa e tráfico de influência. ?Isto ainda será negociado?, comentou um assessor palaciano. Outro problema do relatório é que o governo ainda não sabe, exatamente, quais os novos nomes de deputados que integrarão a lista do mensalão. ?Isto está criando uma insegurança muito grande na base governista?, comentou um auxiliar, ao esclarecer que o governo está ainda negociando com os integrantes da CPMI dos Correios algumas partes do relatório.

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