Devedores contribuíram para campanhas

Brasília – Pelo menos um quarto das contribuições de campanha para candidatos à Presidência da República saiu dos cofres de devedores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), segundo lista divulgada pelo Ministério da Previdência. E o maior volume de doações foi para o comitê do eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Do total de R$ 39,4 milhões que recebeu em contribuições, R$ 10,8 milhões foram doados por empresas que constam da lista de devedores da Previdência.

Entre elas, a principal colaboradora é a Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), da família do vice-presidente José Alencar. A direção da empresa, que afirma não reconhecer a dívida de R$ 137.739 com o INSS, doou R$ 2,4 milhões à campanha de Lula no ano passado.

Mas o grande número de contribuições feitas por devedores do INSS está longe de ser exclusividade de Lula. Candidato do PPS à Presidência da República, o atual ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, recebeu das empresas devedoras do INSS R$ 5,011 milhões do total de R$ 16,3 milhões que arrecadou para a campanha. Proporcionalmente, o tucano José Serra foi o maior beneficiário de contribuições feitas por empresas que figuram na lista de devedores do INSS: R$ 10,3 milhões do total de R$ 28,5 milhões. Segundo prestação de contas feita pelo PSB ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o comitê de Anthony Garotinho arrecadou R$ 3,3 milhões. Desses, R$ 854 mil são doações de empresas devedoras que brigam na Justiça para não pagar ao INSS.

Entre as empresas que estão na relação de devedores do INSS, a Gerdau foi a maior doadora para a campanha de Ciro, R$ 1,2 milhão. A empresa também deu contribuição de R$ 500 mil para o comitê de Lula. Assim como a Gerdau, são muitas as empresas que contribuíram para dois ou mais candidatos ao longo da campanha. A Ericsson Telecomunicações, a Pirelli (Cabos e Pneus), o Banco de Crédito Real de Minas, Klabin e a Ripasa Celulose e Papel são exemplos de empresas que doaram para os três principais candidatos: Ciro, Serra e Lula.

Segundo a assessoria do Ministério da Previdência, a presença de devedores do INSS entre os colaboradores de campanha do presidente e do ministro Ciro Gomes não vai inibir o esforço do governo de cobrar os R$ 65 bilhões inscritos na dívida ativa (em execução judicial).

Prova disso foi a decisão do governo de cumprir, depois de 12 anos, a exigência de divulgação dos devedores do INSS. A assessoria também cita a existência de prefeituras sob comando de petistas como demonstração de que o governo não vai recuar.

O líder do governo no Congresso, senador Amir Lando (PMDB-RO), usa o mesmo argumento: de que se houvesse a intenção de poupar os que contribuíram com a campanha, o governo sequer teria liberado a lista. Ele afirmou que há no governo a disposição de garantir rapidez na cobrança e disse ter certeza de que todos serão tratados igualmente diante da lei, tenham ou não feito doações a Lula. Os que se cadastrarem no Refis II (programa de refinanciamento de dívidas fiscais e previdenciárias) estarão sujeitos às regras do programa.

Vice

Na lista de doadores com dívida sob execução pelo INSS, uma curiosidade: a de que a máxima “primeiro a obrigação, depois a devoção” não vigora. A comparação mostra que não são raros os casos de empresas que gastaram mais em campanha do que precisariam para regularizar a situação de seus débitos com a Previdência. A Coteminas, do vice-presidente José Alencar (PL), é um exemplo. Relutante em pagar R$ 137.700 ao INSS, doou R$ 2,4 milhões à campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ano passado.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo