Brasília – O publicitário mineiro Marcos Valério, apontado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) como o homem da mala do mensalão, soube fazer rapidamente amigos influentes no governo. Além de citar com freqüência o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, Valério costumava impressionar seus interlocutores apresentando-se como amigo de um segundo personagem: Ivan Guimarães, ex-presidente do Banco Popular do Brasil, subsidiário do Banco do Brasil. Valério, Delúbio e Ivan Guimarães eram vistos freqüentemente no café da manhã do Hotel Blue Tree, de Brasília.
Além de Jefferson, foi Fernanda Karina Ramos Somaggio, ex-secretária de Marcos Valério, quem confirmou todas as acusações. A amizade de Valério e Guimarães não foi impedimento ético para que a DNA, empresa do publicitário, ganhasse a conta do Banco Popular do Brasil. De agosto a dezembro do ano passado, o gasto com publicidade do Banco Popular atingiu R$ 24 milhões, número superior ao gasto com as operações de crédito, que atingiram R$ 20 milhões. A DNA é uma das três agências que atendem o Banco do Brasil, selecionadas por licitação. Após a concorrência, ela acabou sendo escolhida numa votação aberta e informal feita por diretores e executivos do Banco do Brasil e do Banco Popular. Mas, segundo relato de dirigentes do BB, foi fundamental a opinião do consultor James Rubio. Rubio tinha forte ligação com Ivan Guimarães.
Os gastos do Banco Popular chegou a ser questionado no início do ano pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Guimarães teve que dar explicações na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, em março. O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), tentou evitar a convocação. Chamou Tasso e Guimarães para uma conversa informal, num encontro tenso. Um mês depois, Guimarães deixou o governo e a publicidade do Banco Popular foi suspensa, com a chegada do novo presidente da instituição, Geraldo Magela.
Guimarães admitiu a amizade com Valério, mas negou que tenha favorecido o publicitário: "Me considero amigo de Valério. Não vejo impedimento ético na nossa amizade. A DNA é uma agência que ganhou licitação".