A leveza e alegria da Portela podem esbarrar na exuberância da Beija-Flor ou no desfile técnico da Unidos da Tijuca, na disputa pelo título do Grupo Especial do carnaval carioca. Elas estão na mesma condição de favoritas ao lado de Salgueiro e Mocidade Independente, que se apresentaram na primeira noite.
Os dois dias de desfile na Marquês de Sapucaí foram marcados por equilíbrio e nenhuma agremiação pode ser apontada como a grande vencedora do carnaval de 2015. Até mesmo a Grande Rio surpreendeu com uma apresentação correta, na madrugada de segunda-feira.
A Unidos da Tijuca, que busca o bicampeonato, encerrou na manhã desta terça a festa no sambódromo com um enredo em homenagem ao carnavalesco Clovis Bornay e, por extensão, à Suíça, onde nasceu seu pai. Desta vez sem Paulo Barros, contratado no ano passado pela Mocidade, a Tijuca perdeu em criatividade, mas pareceu mais aprimorada em detalhes técnicos que podem lhe render pontos preciosos. Mostrou alegorias e fantasias luxuosas.
Já a Beija-Flor entrou na avenida com seus componentes instigados a fazer um desfile de emoção e garra e assim deixar para trás o sétimo lugar do ano passado. O enredo da escola foi polêmico – uma homenagem a Guiné Equatorial, um país de extrema pobreza, sob ditadura há 35 anos e que teria doado R$ 10 milhões para ajudar no desfile. Embora subdesenvolvido, o país é um dos maiores produtores de petróleo do continente africano. Só uma autoridade do país desfilou: Benigno-Pedro Matute Tang, embaixador de Guiné Equatorial no Brasil. Identificada com enredos sobre a cultura africana, a Beija Flor usou o tema para enaltecer aspectos da natureza e da cultura do país homenageado e mostrou alas com coreografias inspiradas em danças africanas.
Mais cedo, a Portela fez uso de vários recursos tecnológicos para comemorar os 450 anos do Rio. Logo no início do desfile, 450 drones representando pequenas águias, o símbolo da escola, voaram da Sapucaí para as arquibancadas. O público ficou exultante e vibrou quando quatro paraquedistas pousaram na pista após um salto de 800 metros – estavam num helicóptero.
No entanto, o auge do desfile da Portela se deu quando uma águia gigante, do carro abre-alas, teve de ser abaixada para passar sob a torre de TV, próximo à Praça da Apoteose, já no encerramento da apresentação. A impressão era que poderia haver uma colisão, mesmo depois que ela se curvou por duas vezes. Mas, no momento derradeiro, um dispositivo interno foi acionado e a águia se abaixou mais um pouco. Ao passar pelo obstáculo sã e salva, a águia recebeu aplausos entusiasmados de milhares de torcedores. Nem mesmo problemas com o mesmo carro na dispersão, o que prejudicou a evolução da escola, esmoreceu o público. Ela encerrou o desfile aos gritos de “é campeã”, na maior manifestação popular dos dois dias de desfile.
Ainda na segunda parte da festa, o sambódromo recebeu três escolas. São Clemente, que luta para não cair, União da Ilha, com um enredo sobre a beleza, justamente o que lhe faltou no desfile, e a Imperatriz Leopoldinense, numa emocionada homenagem ao líder sul-africano Nelson Mandela.
Na primeira noite, Salgueiro, com um enredo sobre a culinária de Minas Gerais, e a Mocidade Independente, que tratou do último dia de vida da humanidade, sob a batuta do carnavalesco Paulo Barros, deixaram a Marquês de Sapucaí credenciadas a voltar no sábado das campeãs. A Grande Rio também está nessa lista, graças à irreverência com que usou as cartas do baralho para brincar na avenida.