Desfiles da SPFW têm início com mudanças

Um desfile incomum no Parque da Independência marca o início da São Paulo Fashion Week, semana de moda paulistana que começa hoje e vai até sexta-feira, 29. Marcada para as 20h, a apresentação do estilista Fause Haten será aberta ao público (em geral os desfiles se mantém restritos a convidados) e terá bonecas gigantes na passarela. “Não é desfile, não é perfomance. Não é teatro, mas pode ser assistido, não é obra, mas pode ser contemplada”, afirma o estilista Fause Haten, fazendo mistério sobre o que mostrará.

Entre os 38 participantes desta edição da SPFW, Haten integra a turma dos que defendem a moda de autor em oposição ao imediatismo do fast fashion. “O que leva uma pessoa a comprar uma roupa minha é a relação comigo. É o mesmo que faz alguém adquirir uma obra de arte”, acredita ele. “Talvez agora as pessoas passem a consumir uma roupa porque aquilo as entusiasma.” Também fazem parte desse time Ronaldo Fraga, conhecido pelo trabalho artesanal, e Alexandre Herchcovitch, que após deixar o comando da marca homônima, pertencente ao conglomerado InBrands, volta ao evento assinando a coleção de roupas da À La Garçonne, loja de mobiliário vintage de seu marido, Fábio Souza.

“Vivemos entre dois momentos: a volta ao trabalho de ateliê, em que o próprio estilista participa do processo todo, da criação à costura, e a rapidez da venda pós-desfile”, afirma o consultor criativo e de tendências Jackson Araújo. No início de março, Paulo Borges, criador e idealizador da SPFW, anunciou uma reviravolta no modelo de negócio para 2017: o calendário será modificado para que as peças desfiladas cheguem às lojas na sequencia. “Vamos mudar as datas de desfiles para deixá-los bem próximos ou mesmo simultâneos aos lançamentos no varejo”, disse Borges na ocasião, em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo. “Assim, a marca já poderá transformar o desfile em ferramenta de estímulo e divulgação imediata de venda.”

Trata-se de uma tendência internacional, chamada lá fora de “see now, buy now” (veja agora, compre agora). Para criar uma nova estrutura e se adaptar à mudança, algumas grifes, a exemplo de Animale e Colcci, não participarão desta edição do evento. Outras já começaram a assimilar o novo momento. É o caso da Ellus 2nd Floor, do grupo InBrands, que venderá uma linha de camisetas estampadas com o Batman em sua loja no Iguatemi na quinta, 28, um dia após o desfile. “O mercado de moda no Brasil é jovem e consegue se adaptar mais facilmente às mudanças”, afirma Adriana Bozon, diretora criativa da 2nd Floor e da Ellus.

A rede de fast fashion Riachuelo também aposta na estratégia. Aguardada por fashionistas, a linha desenhada pelo estilista Karl Lagerfeld, da Chanel, para a empresa chegará a 140 lojas, em todos os Estados do País, na manhã de quarta, 27 – estrelado pela top Isabeli Fontana, o desfile está marcado para a noite anterior. A coleção popular de Karl Lagerfeld, o kaiser da moda, possui 75 peças com preços entre R$ 49,90 e R$ 349,90.

Outra mudança proposta por Paulo Borges – e defendida por alguns criadores – é o fim da divisão das temporadas em primavera/verão e outono/inverno. “As estações nunca foram a base das minhas coleções. Trabalho de forma livre, pensando que a escolha certa da matéria prima pode deixar a roupa livre da sazonalidade”, afirma Vitorino Campos, destaque da nova geração de designers. “No Brasil, temos as quatro estações em um mesmo dia.”

À prova de crise

A atual edição da semana de moda contará com o apoio de 17 empresas de diferentes setores e terá investimento em torno de 12,5 milhões, valor 20% menor do que o da última temporada. “Mas o momento não é de faturar mais e sim de fortalecer as parcerias”, afirmou Borges em entrevista concedida ao Estado no início do mês. Além de renovar contrato com patrocinadores antigos, com o shopping Iguatemi, a Riachuelo e a M. Martan, Borges costurou novas parcerias com a Mercedes-Benz, a Coca-Cola e a Natura.

Para os estilistas, seja na moda de autor ou na comercial, o momento é de focar na qualidade para driblar a crise. “Reparamos que a cliente brasileira tem se tornado mais consciente. A compra por impulso vem diminuindo e as pessoas estão buscando mais qualidade a um preço justo”, diz a estilista mineira Patricia Bonaldi, que apresenta a coleção de sua marca, PatBo, na terça, 26. “Estratégias de marketing sem uma base sólida no produto não funcionam.”

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